a névoa
matinal retira-se tardiamente
após luta
tormentosa o sol venceu a noite
e veio
mostrar o fulgor do dia
os
imperativos cintilantes do ofício da vida
aquilo que
do subterrâneo chama os homens
os cativa e
lhes rouba suor e sangue
a pequena
porção de lágrimas a chorar
a tristeza
com que velas a face
e todas as
coisas que fogem ao teu desejo
são pequenos
animais bravios na cidade
páginas em
branco onde recusas ver a escrita
pequenas
mensagens que a vida deixa
na pegada de
uma história por acontecer
se são dias em
que o sol tarde se levanta
alguém pega
no telemóvel e fala e fala
um rumor de
palavras numa corrente ébria
a pressa de
dominar o dia e a semana
pequenos
projectos em luta conta o destino
o terrível
encontro em samarcanda
pois seja
dia ou noite o obstinado anjo
veste-se de
negro e sai para ganhar o pão
sobre mim
vêm moscas e melgas
insectos
fugidos da demência do inferno
abrem uma
fissura na grande muralha
e entram silenciosos
casa adentro
destroem
sonhos e férteis desejos
agora
grandes naufrágios no mar da vida
pobre
metáfora sem dor ou consequência
encerro-me
na solidão que me habita
e vejo o
mundo fora do mundo
e tudo o que
eu amo chega até mim
em
fragmentos e pequenas imagens
são avisos e
injunções ou pequenas ordens
que me
dobram à exígua realidade
o exercício contumaz
de uma cobardia
se pudesse
ofereceria cursos de silêncio
o modo como
os lábios se devem cerrar
e manter a língua
presa na caverna da boca
ensinaria a
constância de cismar calado
ser gato ou velho
à espera da morte
naqueles
jardins vazios e sem flores
bancos de
madeira onde me sento e te espero
Lindíssimo, certamente conhecerá os Rubaiyat de Omar Khayyam (Persa século XII), este poema enviou-me para lá.
ResponderEliminar"Wake! For the Sun, who scatter'd into flight
The Stars before him from the Field of Night,
Drives Night along with them from Heav'n, and strikes
The Sultan's Turret with a Shaft of Light."
( aqui na tradução de Lord Edward Fitzgerald, século XIX)
Mais uma vez Parabéns por esta série.
Muito obrigado, Rita. Na verdade, escrever é circular entre as infinitas referências que se apresentam ao longo da vida.
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