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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Criadores de espantalhos

Arturo Souto Feijoo - Espantallo (1934)

Na ideia de espantalho pensa-se uma ilusão capaz de provocar medo e, desse modo, evitar que certo objectivo seja realizado. É um truque difundido há muito nos campos para protecção das culturas. O ser humano, contudo, é exímio em criar espantalhos para si mesmo, para que não seja confrontado com os objectivos que a vida lhe coloca e os tenha de realizar. Muitas vezes, o maior dos espantalhos, a grande ilusão, reside numa aparência de realização e na congratulação com aquilo que se costuma designar por triunfo na vida.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Composição cósmica

Oscar Dominguez - Composição cósmica (1938)

Olhamos o mundo e tomamos aquilo que apreendemos como sendo a realidade objectiva. Não vemos que grande parte do que chamamos real é trabalho do nosso próprio espírito. O mundo para nós não passa de um grande trabalho de tecelagem, a realização das nossa faculdades sob o efeito dos estímulos externos, um exercício espiritual, aparentemente, espontâneo, um trabalho de composição cósmica.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Paisagem e realidade

João Hogan - Paisagem (1948-50)

A paisagem é uma das mais poderosas invenções do espírito. Um hábito ancestral leva-nos a crer que as paisagens são objectivas, que se manifestam perante o nosso olhar, e que, dessa objectividade, se prova a sua realidade. Aquilo a que chamamos paisagem, porém, não é mais que uma invenção espiritual, uma realização que o espírito projecta no ecrã do mundo. São irreais então as paisagens? Não, não são, pois resultam de uma realização e é esta que dá toda a realidade ao que chamamos real. 

domingo, 14 de setembro de 2014

Do símbolo (II)

JCM - Raiz e utopia (cemitério de guerra alemão na Normandia) (2007)

Ontem escreveu-se aqui que o símbolo "rasga uma clareira onde a realidade se realiza". Essa, porém, é apenas uma das potências operantes no símbolo, a capacidade de abrir um mundo. Tem também o poder contrário, o de perfazer ou acabar mundos da vida. A característica central do símbolo é a sua ambiguidade. Ele é o que abre, mas também o que encerra e torna acabado aquilo que foi começado e se manifestou no mundo.

sábado, 13 de setembro de 2014

Do símbolo

JCM - Raiz e utopia (a cruz) (2008)

Os símbolos não possuem apenas uma dimensão semântica. Melhor dizendo, os símbolos possuem uma dimensão semântica de tal forma densa que, ela mesmo, é um princípio de realidade. Não é a realidade que dá origem ao símbolo. Pelo contrário, é o próprio símbolo que rasga uma clareira onde a realidade se realiza, isto é, se torna real. Os símbolos são presenças no mundo daquilo a que poderíamos chamar sobre-realidade.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Da realização do real

Albert Gleizes - Contemplação (1944)

Um estranho equívoco apoderou-se da ideia de contemplação. Pensa-se que é uma alienação do real, uma absorção do ego em si mesmo ou em algum objecto que o fascina e que, nesse fascínio, não é mais do que a projecção desse ego. A contemplação, porém, pouco tem a ver com os desvarios do ego. Contemplar é o encontro de duas presenças que, nesse instante, se tornam numa pura realidade. Não é uma alienação, mas, no verdadeiro sentido da palavra, uma realização. Na contemplação, a realidade realiza-se, torna-se efectiva, torna-se real.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O florescer das buganvílias

Por vezes olho longamente as buganvílias floridas e, no esplendor que se ergue, descubro como são tão simples e sem mistério. Ali estão engavinhadas ao que as suporta e tudo se prepara, ano após ano, para o momento onde a beleza velada se desoculta perante o meu olhar estupefacto. Vazia é a vida, porém, se a cada ano que passa nada tem para mostrar e apenas deseja mais um ano para, no próximo, o desejo se perpetuar sem motivo, ou causa, ou mérito. Será apenas o meu destino olhar as buganvílias florescer e ser testemunha de uma vida plena e realizada onde todo o mistério se resume em florir à luz do espanto que me trespassa?