Mostrar mensagens com a etiqueta Vontade de poder. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Vontade de poder. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A via do sonho

W. Eugene Smith - Street of Dreams. Pittsburgh, Pennsylvania (1955)

Pensa-se muitas vezes a vida do espírito como destituída de ligação ao real. Não seria mais do que um longo devaneio pela rua dos sonhos, um exercício onírico de fuga ao trágico da existência ou uma incapacidade de afirmação da vontade de poder. A verdade, porém, é que a vida do espírito nasce da atenção ao trágico da existência e do abandono de todos os sonhos que a  vontade de poder faz nascer no homem. O caminho espiritual nasce onde o delírio onírico acaba.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Os lugares desertos

Mark Rothkovich - Untitled (1961)

Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel. (Lucas 1:80)

Aprendemos que o deserto é esse lugar onde o espírito se robustece e aquilo que é pequeno cresce. O deserto não é um lugar de fuga, mas de preparação, como se o preparar-se exigisse sempre o esforço da solidão e o confronto consigo mesmo antes de entrar no espaço partilhado com os outros. Tornar-se forte para dominar? Não, tornar-se forte para poder viver entre os fracos e os dominadores, sem temer ser uns nem desejar ser outros.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Um grão de areia na duna

Brett Weston - Dune, Oceano (1934)

Recebemos uma estranha educação. Devido a ela, o homem convence-se que é livre quando, de ego inflacionado, impõe aos outros a sua vontade. Não estranha que liberdade e império possam conflituar. A liberdade, porém, nasce da ausência de ilusões sobre si mesmo, nasce quando o homem se descobre como um grão de areia perdido na imensidão da duna.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Caminho de sabedoria

Pablo Picasso - Pareja de pobres (1903)

Segundo o bispo Alberto, um homem pobre é aquele que não se satisfaz com nada que foi criado por Deus; e isto está bem dito. Mas nós dizemos ainda melhor e tomamos a palavra pobreza num sentido ainda mais elevado: é um homem pobre aquele que não quer nada, não sabe nada e não tem nada. (Meister Eckhart, Sermão alemão n.º 52)

Será preciso, para compreender estas palavras de Eckhart, distinguir entre ciência e sabedoria. A ciência é a posse de qualquer coisa, de uma imagem da realidade, de uma representação das coisas. A sabedoria, porém, nasce do desapossamento total. Ela é, de facto, pobreza de espírito. A importância da pobreza não deriva de haver pobres socialmente, mas no facto de que quem procura a sabedoria deve aprender a tornar-se pobre de espírito. O que significa isto? Significa que deve abandonar todo o conhecimento ilusório adquirido no mundo, todo o domínio das aparências com que se auto-ilude. A pobreza de espírito, porém, não é apenas uma purga cognitiva e uma limpeza teórica. Ela é também uma purificação da vontade, ao abandonar toda a vontade de poder e todo o desejo de posse. Aniquilar em si a vontade de poder, de saber e de possuir é o primeiro passo para uma abertura à verdadeira sabedoria. Estas são as mais estranhas palavras que se podem dizer a uma consciência moderna, tão orgulhosa das suas conquistas, dos seus poderes e dos seus saberes. Não compreende que na verdade, por útil ou agradável que tudo isso seja, não deixa de ser vento que passa.