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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O Espírito da Terra (36)

Léonard Misonne, Coucher de Soleil, 1905

Quando o Sol se põe, nesses instantes de cintilante indecisão, o espírito da Terra manifesta-se numa imagem de súbita nostalgia: as sombras alongam-se em busca do infinito, a paisagem funde-se num anseio de eternidade.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

O Espírito da Terra (35)

Daniel O'Neill, Returning home, 1956 (Gulbenkian)

Quando o espírito da terra se aquieta e o tempo das febres e alucinações chega ao fim, então emerge do magma sombrio a hora de os homens retornarem a casa. O caminho que fora tumultuoso, tomado pela inquietação das coisas sem norte, torna-se ameno e, sob a sombra suave do dia, oferece a segurança de uma viagem até à terra interior que espera cada um dos que vieram ao mundo.

domingo, 22 de setembro de 2024

O Espírito da Terra (34)

Maria Benamor, A Memória e o Sonho, 1971 (Gulbenkian)

O Outono é o sonho tardio da Terra. Adormece lentamente no crepúsculo do ano e deixa a memória levedar nas longas noites que a aproximam do Inverno, para que, sonhando em silêncio, a vida descanse nas suas entranhas, ganhe forças para as longas provações que virão, para triunfar, chegada a hora, sobre a noite e o carvão das trevas.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O Espírito da Terra (33)

Karl Greger, Sur la plage (Pays de Galles), 1897

Na areia, a terra quase se torna água, abandona a solidez dos contornos e deixa que o seu espírito, impelido pelo vento, sujeito pela paixão do fluxo, vagueie sobre o mundo, como se fosse um anjo descido dos céus para observar os homens perdidos na rígida fluidez da vida.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

O Espírito da Terra (32)

Nicolaus Schindler, Puszta-Motiv, 1908

A planura com que por vezes a terra se oferece aos homens é o sinal da luz que a habita. Ali, vibra a corda do refúgio e ecoa a voz de um chamamento, aquele que traz os homens da poeira do nada ao fogo da existência e que, extinto o incêndio, oferece a morada para o  cansaço do corpo.

sexta-feira, 14 de junho de 2024

O Espírito da Terra (31)

Fernando Pissarro Gambôa, Terra Perdida IV, 1982 (Gulbenkian)
Toda a terra é uma terra perdida, ulcerada pelo vento, entregue à erosão das águas, aberta ao delírio do fogo. Despois, recompõe-se e, entre cinzas, poeiras e lamas, oferece o corpo despido à fecundação do céu, para que a vida venha com os seus imperativos e lhe devolva o sentido que, por instante, a impiedade do tempo lhe roubara.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

O Espírito da Terra (30)

Dórdio Guimarães, Paisagem alentejana (Évora), 1941

Uma paisagem iluminada pelo sol. No diverso das cores, manifesta-se uma sabedoria arcaica, aquela que, sob o império do espírito , determina o lugar das coisas, o espaço dos animais, as possibilidades dos homens sobre a Terra.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

O Espírito da Terra (29)

Autor desconhecido, Hawaiian Tree Study, 1900-1910

É uma terra tocada pela sombra da solidão. Os que por ela caminham trazem nas veias o sangue tocado pela substância porosa da loucura. Sentam-se sob a copa das árvores e esperam que o espírito lhes sopre nos ouvidos o caminho a seguir. Então, levantam-se e enfrentam o horizonte com a resina luminosa do poente.

sábado, 13 de janeiro de 2024

O Espírito da Terra (28)

Bartolomeu Cid dos Santos, Terra Incógnita (Gulbenkian)

Nenhuma terra é como esta. Uma terra coroada de mistérios e enigmas, uma terra atravessada por rios cintilantes e caminhos escavados na púrpura das paisagens. Habitam-na seres que trazem na boca o bastão das palavras. Quando assentam arraiais, constroem aldeias e cidades, onde se entregam à lenta decifração dos segredos ou ao cansaço das noites polvilhadas de sonhos.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

O Espírito da Terra (27)

Louis Eysen, The Earth Pillars by the Schalderer Bach near Vahrn, 1878

Também a Terra assenta em poderosos pilares, não de cimento ou nascidos na rocha dura, mas mais fortes e resistentes que o diamante. O espírito, na sua constância inconstante, é a matéria de dos pilares da Terra. Invisíveis na sua presença, invisíveis no seu ser, eles erguem a Terra e não a deixam afundar no abismo eterno. São o espírito da Terra.

segunda-feira, 10 de julho de 2023

O Espírito da Terra (26)

Daniel O'Neill, Returning Home, 1956

Quem volta ao lar pisa o chão com leveza, para que a terra permaneça silenciosa e, envolta no seu silêncio, deixe que o espírito que a guia conduza quem se fez ao caminho para retornar ao lugar que é seu, como se voltasse ao paraíso de onde fora há muito expulso.

quarta-feira, 1 de março de 2023

O Espírito da Terra (25)

Charles Job, Ploughing on the South Downs, 1907

Rasgar a terra para que dê fruto e o homem se alimente não do pão que dela nasce, mas do espírito que se liberta pelo infindável labor de cada dia. Então, o homem falará e, nas suas palavras, ecoará o espírito da terra, o rumor da casa onde nasceu e que o aguarda para o fazer escutar a última, a mais decisiva das palavras.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

O Espírito da Terra (24)

Albert Renger-Patzsch, Heidesheim (Sandaue), 1940s

Sob a erva a terra esconde-se, para que nela a vida, como um segredo, possa germinar. Tudo o que nasce vem do silêncio da terra, de uma lenta urdidura, para que a novidade chegue envolta no véu transparente da surpresa. Os dias passam como anéis deslumbrantes de mármore, que se recolhem em dedos afilados, enquanto, no solo, cresce o odor daquilo que, ainda sem nome, virá.

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O Espírito da Terra (23)

Frederick Britton Hodges, November skies, c. 1915

Sob os céus de Novembro, a terra recebe os pesados encargos que o homem lhe trouxe. Serva submissa e fiel, entrega a sua pele para o livre devaneio ou a imperativa necessidade dos homens. As nuvens sorriem-lhe, e as árvores despem-se para que as suas folhas, ao morrer, a cubram e lhe levem o alimento que a tornará uma e outra vez criança mergulhada no rubor da inocência.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

O Espírito da Terra (22)

Gertrude Käsebier, Blossom Day, 1904-05
Os dias em que a Terra se elava pela metamorfose de um botão em flor são marcos miliários no caminho da glória. O sólido e árido crucificam-se para que a seiva corra como um rio em busca da foz. Então, chega a hora em que a beleza se manifesta e tudo o que pertence à Terra se transforme em puro espírito.

sábado, 1 de outubro de 2022

O Espírito da Terra (21)

Benvenuto Benvenuti, Avanti il tramonto, 1908

Ao pôr-do-sol, a terra liberta-se do cansaço do dia e, por instantes, deixa reverberar todas as cores que a habitam. Depois, deixa que as aves se calem e  os animais se escondam para dormir. Então, chama a noite e, embalada pelo vento, adormece até que a aurora chegue com a promessa de um novo dia

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O Espírito da Terra (20)

Artur Pastor, Santa Luzia, Algarve, da Série Outras Geometrias, anos 40-50 (ver aqui)
A brancura que se exalta de luz na luz de um olhar, a cantaria gasta pelo arrastar dos anos e o sopro dos ventos vindos do mar, as redes que trarão o que comer, se marés estiverem de feição. Também onde o oceano impera se faz ouvir no bramir das águas a voz da terra.

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

O Espírito da Terra (19)

Artur Pastor, da exposição Montalegre, Pequeno Grande Mundo (2022), anos 50 do sec. XX (visitar o site dedicado a Artur Pastor)

A vida rude abre-se ao olhar, banhada pela intensa luz do abandono e do esquecimento. Nesta pobreza feita de contenção, de gestos medidos pela força dos dias e das noite, ouve-se a canção da Terra. Esta ergue a sua voz de vento e silêncio e deixa que o seu espírito, tomado pela quietude da inquietação, sopre onde quiser, ora como vendaval, ora como zéfiro benfazejo.

domingo, 31 de julho de 2022

O Espírito da Terra (18)

Otto Scharf, Memento Mori, 1902
Também a morte faz parte do jogo sem fim em que se manifesta o espírito da Terra. Recordar-se como mortal é abrir uma das portas que levam à compreensão desse espírito, à solenidade com que ele cobre  de bênçãos tudo o que é finito.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

O Espírito da Terra (17)

W. Rothermundt, Eckbauer bei Garmisch in Oberbayern, 1900

No agreste da montanha, a terra fala no silêncio com que acolhe a luz do dia e o céu estrelado da noite. Quando o vento assobia, se se encoleriza por algum desejo frustrado, a terra escuta-o, como se escutasse a voz de um deus perdido na floresta da solidão.