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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Confronto entre a vida e a vida

Artur Bual - Pietá

O filho morto nos braços da Virgem - essa eterna cena que dá pelo nome de Pietá - deixa-se captar, na pintura de Artur Bual, em toda a complexidade que ela contém. Não se trata apenas da dor humana sentida pela mãe que perde o filho, mas da situação equívoca onde esse filho se encontra. Essa equivocidade é idêntica à da semente que, morta na terra, ressuscita com e para uma outra vida. Também na morte do Cristo, no acolhimento que os braços da mãe fazem do filho morto, se joga o terrível - pois inclui nele a morta, por simbólica que ela seja - confronto entre duas formas de vida. Na Pietá de Bual - no seu gestualismo figurativo - capta-se o momento onde, na morte, essas duas vidas se misturam, se confrontam e se separam.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Designações vazias

Agnes Martin - A rosa (1964)

A pintura contemporânea tende a estabelecer uma relação arbitrária entre o quadro e a designação que lhe é atribuída. Esta arbitrariedade deriva do choque entre o que é visível e a palavra. Talvez a finalidade desta estratégia seja a de marcar a diferença abissal entre o pictórico e a sua interpretação, já que toda a denominação pode ser pensada como interpretação. O espectador, desconcertado, tem de encontrar um caminho para a experiência estética e esquecer a palavra. Isto, contudo, é apenas um dos lados do problema. O outro é a revelação do carácter vazio - um vazio de grande plasticidade - da própria linguagem, onde as palavras estão disponíveis para acolher aquilo que se possa colocar dentro delas. O que é válido para a arte é válido para qualquer forma da vida do espírito, nomeadamente para a experiência religiosa. Entre as palavras e a experiência há um abismo, o qual é ocultado por uma crença mágica nas palavras. Elas, porém, são apenas designações vazias a que cabe dar, pela experiência efectiva, conteúdo e verdade.

sábado, 30 de agosto de 2014

Da pintura abstracta

Lee Krasner - Abstract #2 (1946-1948)

O viandante interroga-se muitas vezes sobre o papel da pintura abstracta no desenvolvimento espiritual da humanidade. Não é uma interrogação sobre pintura ou sequer sobre estética. Trata-se antes de uma questão ontológica. Que potências ocultas essa pintura desoculta e traz à luz do dia? Só uma visão ingénua da pintura poderia afirmar que aquilo que está num quadro nada tem a ver com a realidade. A libertação desses planos do real têm que finalidade? A mera expressão de um caos que se libertou da ordem para que o cosmos se dissolva ou é a solicitação para que o espírito apreenda essa desordem originária e encontre um caminho para configurar uma nova ordem?