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terça-feira, 19 de novembro de 2024

Impressões 123. O caminho da floresta

Flor Campino, sem título, 1961 (Gulbenkian)

Ouve-se o canto dos pássaros e os olhos detêm-se no verde da floresta. Um desejo insensato apodera-se do corpo, e o viajante ocasional sente-se atraído por aquele território inóspito, onde o segredo da vida se combina com o mistério da luz. Intrépido avança e diante dele vê a floresta abrir-se num caminho que só o coração sabe a onde levará.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Impressões 122. Sombras do passado

António Soares, sem título, 1940 (Gulbenkian)
Sombras do passado visitam-nos e envolvem-nos na sépia de impressões arcaicas. Sinais retidos nas primeiras memórias ou imaginados no segredo de uma memória colectiva, o discurso infinito vindo no silêncio dos genes, composto numa língua desprovida de gramática, despida de palavras, aberta ao acaso do sentido.

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Impressões 121. Cidade branca

José Júlio Andrade dos Santos, Paisagem (A Cidade Branca), 1951

Uma cidade parada sob a noite, maculada pelas sombras que lhe trarão o negro dos sonhos e a ânsia pelo despontar da aurora, para que, rua a rua, casa a casa, recupere a brancura ancestral, a pureza de virgem que o passar do dia ocultou no véu lutuoso de um crepúsculo moribundo.

sábado, 17 de agosto de 2024

Impressões 120. Cidade

Carlos Botelho, Ritmos de Lisboa, 1957
Uma cidade não é mais do que um conjunto de traços, leves impressões que se inscrevem na matéria do mundo, onduladas pelo ritmo do vento, pelo timbre de avenidas e praças, pelo eco do silêncio no coração de quem passa.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Impressões 119. Self

João Dixo, Quem pinta, pinta-se, 1978 (Gulbenkian)

Sou a impressão de mim próprio, e nessa impressão está tudo o que sou, pois o self não mais do que a impressão que o impressor imprimiu na clareira do mundo.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Impressões 118. Noite

Jorge Pinheiro, sem título, 1977 (Gulbenkian)

A noite desloca-se sobre a Terra. Sombra apaziguadora do cansaço trazido pela luz. Poder da desordem que, ameaçado pela força do cosmos, abre a porta para dança do caos. Textura da morte semeada na aridez dos campos e na volúpia dos oceanos. O seu caminho não tem fim.

terça-feira, 30 de abril de 2024

Impressões 117. Oceano

Gustave Le Gray, Seascape with Sailing Ship and Tugboat, século XIX

O oceano é uma planície tocada pelo vento. Nela não há searas que anunciem o pão, nem vinhas para vindimar com a promessa de um vinho novo, nem os grandes pomares que tragam frutas maduras para a ânsia de as saborear. Ali, apenas cresce a inquietação ou a sombra que anuncia a grande indústria do temor e o comércio da perdição.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Impressões 116. Jardins

Fernando Lemos, Jardim, 1959 (Gulbenkian)

Os jardins nascem de uma métrica vegetal e de uma gramática feita de obsessões. Adormecem ao raiar da aurora e acordam quando a luz se dissolve no poente. São habitados por longos vícios florais e algumas virtudes sem nome. Cenários de sombras e fogo num palco onde os homens, sem o fio de Ariadne, se perdem continuamente no labirinto onde nenhum Minotauro os espera.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Impressões 115. Primeiros passos

Max Libermann, The first step (Mother and Child, small sketch), 1890

A realidade não será, na sua natureza mais fundamental, senão um tecido de impressões, que tomam figura e, ao configurarem-se, permitem que os nossos sentidos se iludam e tomem como traço definido e rigoroso aquilo que é apenas o rasto dessas impressões. Se abandonamos a ilusão do rigor e da definição, então descobrimos que tudo é esboço e, sendo assim, qualquer passo é sempre o primeiro passo, um ensaio perante o desconhecido.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Impressões 114. Lugares de dor

Mario Sironi, Paesaggio urbano, 1942

O olhar entristece perante a cinza sem nome da paisagem. O coração não canta as grandes fábricas do mundo, as chaminés erguidas aos céus como punhais de tijolo, os telhados que as nuvens evitam purificar com as suas águas lustrais. Os viandantes evitam esses lugares de dor e os peregrinos sabem que não é ali que passa o caminho para o santuário onde o divino os espera.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Impressões 113. Pela janela

Fritz von Uhde, By the Window, 1890 – 1891
Olhar o lado de lá pela janela é uma libertação do trabalho que a vida quotidiana impõe. A banalidade das tarefas é desafiada pelas impressões que o mundo manifesta para olhos cansados, ávidos de trazer para dentro de casa o bulício da vida e o encanto do desconhecido.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Impressões 112. Entre ruínas

Dmitri Kessel, A man walking through the remains of an ancient temple in Athens, 1944
Um homem passeia entre ruínas. Absorto, mergulha nas sombras projectadas pelas pedras do passado. Uma esperança toca-lhe o coração, um desejo prende-o ao lugar. Espera que um deus tenha uma reminiscência e, por um súbito impulso, volte ao templo onde terá sido cultuado e se manifeste, para que ele, passeante incansável pelo rumor de outros tempos, realize o seu desejo e descubra a vida verdadeira que a época que lhe foi dada para viver esqueceu.

sábado, 17 de junho de 2023

Impressões 111. Na lagoa

Heinrich Kühn, Abend In Der Lagune, 1895

Ainda não é uma noite de bruma, nem a glória das águas se eleva para os céus onde, vigilantes e eternos, os astros observam as lentas metamorfoses da vida na terra. Dois veleiros cruzam a lagoa, procuram porto de abrigo, na esperança de encontrar um lugar onde o lume cintile e envolva os corações com o manto do calor. É como se um sonho se inscrevesse na paisagem para a preencher de impressões esquivas, toldadas pelo marulhar das águas, e segredos habitados por uma longa demora.

terça-feira, 21 de março de 2023

Impressões 110. Cores

Imagem obtida com IA da CANVA

Cores irrompem do fundo negro onde tudo repousa. Rasgam a tela da escuridão e abrem as portas da luz. Então, erguem-se diante dos olhos, trazendo mensagens de um mundo onde ainda não existiam. São anjos as cores, anunciam aquilo que se esconde por dentro de tudo o que é visível.

terça-feira, 7 de março de 2023

Impressões 109. Universos circulares

Imagem obtida com IA da CANVA

Universos circulares escondem-se como velhas praças secretas que só os amantes, perdidos na sua inocência, conhecem. Ali flui uma energia silenciosa, a lenta combustão das memórias, o ardor dos corpos tomados pelo prazer dos sentidos. Quando uma tempestade sobrevem, um manto de de aço e acrílico desce para proteger quem ali sonha. Se a Primavera transborda num dia de luz, uma esperança verdeja no horizonte e o longínquo bramir do mar ecoa no cristal das paredes.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Impressões 108. Uma revelação

Andre de Dienes (Dienes Andor), Paris, 1936
O súbito matrimónio entre o fulgor da luz e a sombra da névoa abre aos olhos o segredo que, dia após dia, o tempo oculta. Tudo o que se vê não é mais do que uma impressão que os olhos desabituados do espanto das primeiras coisas tomam como realidade substancial, de contornos precisos e existência sólida. Passeamos no mundo caminhando de impressão em impressão, ignorantes de que nós próprios não somos mais que meras impressões inscritas nas areias movediças de uma praia de águas alteradas.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Impressões 107. O homem do saco

Francesc Català-Roca, El hombre del saco, 1950
O homem do saco, esse terror da imaginação infantil, afinal é apenas uma sombra que se projecta no chão daquelas ruas esconsas, onde só o silêncio tem voz. Não rouba crianças, nem sonhos, nem solidões. Vagabundeia por onde a luz viva do Sol faz incidir os seus raios, para criar ilusões a quem, de longe, o vê aproximar. Caída a noite, não há quem o veja, pois também ele, então, treme diante do artifício da sua sombra nocturna.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Impressões 106. Cuidar do silêncio

Aaron Siskind, Acolman 5, 1955

Há lugares em que o único ofício possível é o de cuidar do silêncio, obstar a que o ruído se precipite sobre aquilo que existe, e assim evitar que, tresloucadas, as ondas sonoras rasguem a pedra e a entreguem nas mãos do tempo, que, com os seus dedos de aço, haverá de a pulverizar, até que tudo se transforme em nuvem de poeira levada pelo vento.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Impressões 105. Geografias de luz

Léonard Misonne, Coucher du Soleil, 1905

O mesmo lugar ocupa diversas geografias, conforme a hora do dia. Um lugar não é o mesmo ao amanhecer e ao pôr-do-sol, nem durante o dia e durante a noite, pois a luz, a sombra e as trevas trazem consigo outras tantas configurações que se apoderam do território e transformam a paisagem que ingenuamente se pensa ser única em múltiplas. Cada uma com o seu clima e com os seus pontos cardeais. O Norte ao amanhecer não é o Norte do anoitecer. Cada um deles tem a sua natureza, os seus segredos e os seus imperativos.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Impressões 104. Plenitude dos tempos

Henri Cartier-Bresson, Hyeres, 1932

Há expressões que nunca entendemos bem o seu significado decisivo, como plenitude dos tempos. Por vezes, temos uma rápida visão do seu significado, uma visão que não se deixa captar, mas que dança diante dos nossos olhos, quando o tempo como uma espiral se cruza com o tempo como uma linha recta que do passado se dirige para o futuro. Nesse súbito cruzamento, vislumbra-se a plenitude dos tempos.