Holz [madeira, lenha] é um nome antigo para Wald [floresta]. Na floresta[Holz] há caminhos que, o mais as vezes sinuosos, terminam perdendo-se, subitamente, no não trilhado. Chamam-se caminhos de floresta [Holzwege]. Cada um segue separado, mas na mesma floresta [Wald]. Parece, muitas vezes, que um é igual ao outro. Porém, apenas parece ser assim. Lenhadores e guardas-florestais conhecem os caminhos. Sabem o que significa estar metido num caminho de floresta. (Martin Heidegger, Caminhos da Floresta)
Se em certas histórias infantis o caminho da floresta conduz não a um certo lugar, mas a um encontro, os caminhos da floresta de que fala Heidegger não asseguram sequer esse encontro. São como muito bem traduzem os franceses chemins qui ne mènent nulle part. Quem visitou a Floresta Negra e percorreu os trilhos que a atravessam - esses trilhos que envolvem a cabana, em Todtnauberg, que foi de Martin Heidegger e hoje pertence aos filhos - percebe o que o filósofo diz quando se refere ao não trilhado. A floresta torna-se a metáfora do não dito, do não pensado e do não vivido. Essa metáfora, porém, é a que permite abir um caminho no não trilhado. Quanto mais pensamos nesse não trilhado, mais tomamos consciência de que a floresta é também o lugar da errância. Perder-se na floresta pode acontecer a quem não tem a sabedoria do lenhador ou do guarda-florestal.
A sabedoria do lenhador ou do guarda-florestal é uma estranha sabedoria. Não deriva do saber que vem do livro, nem mesmo dos livros sagrados, mas da experiência da própria floresta. Só adentrando-se nela, só correndo o risco da errância, só mesmo fazendo a experiência da errância é que alguém chega à sabedoria dos trabalhadores da floresta. Num mundo em que o trabalho tem tão pouco valor, quem quererá rebaixar-se à condição de um simples lenhador ou guarda-florestal? Quem aceitar essa condição, todavia, poderá escutar ainda, na volúpia do tempo, as palavras de Heraclito: Quem não espera o inesperado, nunca o encontrará.