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sábado, 14 de novembro de 2015

Do percurso da vida

Wassily Kandinsky - Composición número 5 (1911)

A vida não é o percurso linear que conduz o homem do nascimento à morte. Ela não mais do que ensaio, tentativa e erro, um processo feito de incoerências, de acasos, de vitórias e de derrotas, de coisas que, inopinadamente, vêm ter connosco e que, sem se saber porquê, se aceitam ou se recusam. Quando começamos a olhar para trás, para o vivido, e vemos uma linha exuberante e coerente, então já estamos comprometidos com a mentira a nós próprios, e a nossa razão já começou a apagar as memórias, para transformar aquilo que foi um caos num mundo organizado, numa mentira cosmética que nos tranquiliza e nos faz estranhos a nós próprios e à voz que nos chama.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

O fascínio das antiguidades

Karl Schmidt-Rottluff - Antiguidades (1928)

O fascínio com as antiguidades, se já atormentava as mentes na Antiguidade Clássica, teve no Renascimento um notável incremento. A partir daí, à medida que a modernização das sociedades as afastavam da vida tradicional, o culto pelas antiguidades não parou de crescer. Nunca se pensa, contudo, que este fascínio é o sintoma de um vazio espiritual, a confissão de uma impotência de viver plenamente o tempo que nos foi dado, de nele escutar a voz do vento, aquele vento que sopra onde quer e que, perante o feitiço das formas mortas, não pára de nos chamar à vida.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O ritmo de cada um

Nicolás de Lekuona - O bosque do ritmo (1932)

O ritmo é aquilo que diferencia o caminho de cada um na vida do espírito. Por isso, nenhuma aventura espiritual de um homem pode ser modelo a copiar por outro. A consciência desta diferença radical é essencial. O que está em jogo, na vida espiritual, não é a massificação igualitária mas a singularização de cada um. Que cada um, segundo o ritmo que é o seu, responda à voz que o chamou. 

quarta-feira, 10 de junho de 2015

O ponto originário

Frantisek Kupka - À volta de um ponto (1911-12)

A trama da vida dos homens é tecida à volta de um ponto. É o ponto originário, secreto, oculto na profundidade do ser. Nesse ponto, falou a voz que nos convocou à vida. E é nesse ponto original e singular que continua a bradar essa mesma voz. Muitas vezes, é como se estivesse no deserto. Outras, porém, ela acorda o viandante que há em cada ser humano e põe-no a caminho.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Do bárbaro e do civilizado

Alejandro Xul Solar - Bárbaros (1926)

Habituámo-nos, devido a uma longa tradição, a pensar o bárbaro por oposição ao civilizado. E o civilizado é aquele que possui a virtude da racionalidade cívica. Se olharmos, porém, com atenção para essa racionalidade cívica em acção descobrimos de imediato quanto ela é bárbara, destituída de espírito, fundada na alienação de si mesmo ou na redução à máscara com que escondemos a nossa impotência para responder à voz que nos chama.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Paisagens desconhecidas

Jean Metzinger - Landscape (1904)

O estranho silêncio das paisagens desconhecidas abre-se perante o espanto do viandante. E ele não sabe o que mais admirar, se a novidade com que os seus olhos se deparam ou se o silêncio com que é recebido. E assim penetra no desconhecido à espera de um sinal que lhe indique o caminho ou de uma voz que o chame.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

De periferia em periferia

Henri Rousseau - House on the Outskirts of Paris (1902)

Os homens, levados pela vaidade e a frívola ilusão, julgam que o lugar que lhes cabe é sempre o central. E para chegar ao centro do mundo gastam a pouca energia que lhes cabe. O viandante há muito que tomou o caminho da periferia. Por vezes, entra numa casa e descansa, para logo retomar o caminho e, de periferia em periferia, seguir a voz que, na distância, o chama e o conduz para onde a frivolidade dos homens não se deixa arrastar.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Planaltos e cumes

Felix Vallotton - Le plateau de Bolante (1917)

Nos planaltos a vida é suave e o horizonte amplo. Um planalto convida o viandante à vida sedentária, aos prazeres do trabalho recompensado pela generosidade da terra. O espírito, porém, é como o vento e sopra onde quer. O cume da montanha chama por ele e, movido pela voz que escuta, deixa o conforto e segue o seu caminho. Na terra, não há lugar que seja a sua casa.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Divergência e convergência.

Jackson Pollock - Convergence (1952)

É hábito considerar o pensamento divergente como sintoma de criatividade. Toda a divergência é, antes do mais, um afastamento, uma separação do instituído, daquilo que o mundo e o senso comum aprovam como aceitável. Afastamento esse que é, ao mesmo tempo, uma convergência com o inesperado, o inusitado, com a voz única que do fundo do ser chama por aqueles que ousam divergir do mundo.

sábado, 18 de outubro de 2014

Derrubar o muro

JCM - Distopia (The Wall) (2007)

O pior na viagem são os muros. Não são apenas divisórias, linhas de fronteira e de fractura de territórios. São formas de oclusão, de fechamento, de incapacidade de perceber os outros. E quem não é capaz de ouvir os outros será capaz de ouvir esse totalmente Outro que fala para lá de todos os muros? Será capaz de discernir o seu chamamento? A viagem é também um derrubar de muros, uma purificação do espaço, um refazer de geografias. Para quê? Para que possamos escutar o outro e na voz desse outro escutar a voz que chama dentro de mim.

sábado, 20 de setembro de 2014

Para além das muralhas

JCM - Heimat V. Torres Novas (Castelo) (2007)

Erguer muralhas é ainda um sinal de menoridade do espírito. Preso em si mesmo, tem medo de se abrir à vida plena. Então, fecha-se e olha vida e mundo a partir das torres onde se encastelou. A viagem do Viandante não é outra coisa senão a contínua destruição das muralhas que o medo ergue. Medo da sua própria destinação, medo que o entrega à errância e à dissipação. Porém, para lá das torres do castelo uma voz ecoa no deserto.

sábado, 12 de abril de 2014

Um leve murmúrio

Ray K. Metzker - City Whispers, Los Angeles (1981)

Penso na ideia de uma cidade dos sussurros e vejo-a na sua razão de ser. Podemos pensar que onde apenas se sussurra, onde só leves murmúrios se fazem ouvir, a vida está de tal forma comprometida pelo medo que ninguém ousa levantar a voz e falar. Há, porém, espaços onde a liberdade não impede a fala, mas que solicitam que aqueles que tomam a palavra o façam em leves murmúrios. São os lugares onde se manifesta uma Palavra mais decisiva e fundamental do que a palavra dos homens. E essa Palavra é tão decisiva que estes compreendem que a sua voz não se deve erguer - se não querem cair no ridículo - para lá do leve sussurro.

quinta-feira, 20 de março de 2014

O lugar da solidão

Robert Doisneau - Rue des Ursins - Paris 4e (1945)

Somos demasiado sensíveis à definição aristotélica do homem como animal social. Não percebemos, todavia, que a verdade dessa definição oculta uma outra realidade humana, a sua solidão. Nesta não devemos ver apenas o abandono, mas a forma como o homem pode realizar tudo o que lhe é essencial. Só na solidão o homem é, na verdade, capaz de escutar a voz do outro. A própria sociabilidade humana está escorada na solidão do homem.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Sabedoria

Francisco Soto Mesa - 1.98.1 (1984)

Há aqueles  que andam à deriva e não sabem que rumo tomar, entregues à errância e à perdição. Outros traçam objectivos e, pela força da razão e da vontade, cumprem-nos. Os terceiros, porém, não estão perdidos, mas também não têm objectivos. Escutam e seguem uma voz que não sabem de onde vem nem para que terra os impele. É nestes que desce a sabedoria.

sábado, 5 de setembro de 2009

Deixar vir

Deixar vir a noite com o seu silêncio, deixar vir a incerteza que a escuridão traz, deixar vir o sussurro da Voz que ecoa para lá do horizonte.