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domingo, 23 de dezembro de 2018

Presenças

Bartolomé Esteban Murillo, El regreso del hijo pródigo, 1668

No seu núcleo mais misterioso - e por isso mesmo mais espiritual - o nascimento do Menino Jesus não será outra coisa se não o regresso do filho pródigo. Os textos das tradições sagradas possuem uma espécie de circularidade, na qual um mesmo sentido é dito de maneiras diversas, remetendo as narrativas umas para as outras, como se lutassem para que um sentido decisivo, embora obscuro, não se perca. Seja no nascimento, seja no regresso, estamos sempre confrontados com a chegada do que não se espera, com o inusitado de uma presença que anula o absurdo da ausência. No nascimento do Menino, é o filho pródigo que se torna presente. No regresso do filho pródigo é o Menino que se afasta da sua ausência.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Interrupção

Andrea Mantegna - Adoration of the Shepherds (1451-53)

Com a adoração dos pastores, de Andrea Mantegna, o Homo Viator interrompe por uns dias a sua actividade. Voltará no início de Janeiro, passadas as Festas e os mil compromissos que elas trazem consigo. A todos um Bom Natal e um Feliz Ano Novo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Natividade mística

Sandro Botticelli - The Mystical Nativity (1500-01)

E se as narrativas sobre o nascimento do Filho de Deus em Belém não tiverem qualquer correspondência factual, se pertencerem apenas ao domínio do mito e não da história, serão elas falsas? Depende do regime de veridicção adoptado. Se for um regime em que a verdade depende da correspondência do discurso aos factos, então, no caso de serem não históricas, serão falsas. Mas se o regime de veridicção for outro, se a verdade não for uma mera correspondência entre factualidade e discurso mas uma realização de uma possibilidade inscrita no real, então as narrativas da natividade são a mais pura das verdades, aquela a que todos os homens são chamados a realizar na sua vida. A natividade do filho de Deus não é um mero facto, mas a possibilidade que, segundo o Cristianismo, os filhos de Deus trazem em si mesmos. Uma natividade mística.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A sombra do Natal

Kings College Choir - Christmas Carols 24 dec 2011

Talvez no dia 26 de Dezembro tudo volte ao que está e isso representará para muitos uma decepção, como se o Natal fosse uma trégua, mas uma trégua que não anuncia o fim da guerra. Essa decepção, porém, está fundada numa imagem infantil e mágica do Natal, imagem essa que se projecta na compreensão da vida e do mundo. Não se compreende que o milagre não está em o Natal transformar magicamente a vida com o seu cortejo de necessidades e malevolências, mas na sua própria existência. O milagre está em se ter descoberto uma noite e um dia onde a desumanidade contumaz da humanidade é questionada. Essa luz, ao embater na dura realidade de 26 de Dezembro, projectará uma sombra que, aqui e ali, lembrará aos homens que a vida não tem de ser um exercício contínuo de maldade e servidão. Exultemos. Um feliz Natal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

J.S. Bach - Christmas Oratorio BWV 248



Para quem, em peregrinação, por aqui passe, o Homo Viator deseja um Santo Natal. Exultemos e regozijemo-nos pelo nascimento do Salvador. Na desolação do presépio, nasceu um menino, e como todas as crianças, esta que nasce incansavelmente há mais de dois mil anos representa a convicção de que a vida vale a pena ser vivida, que a morte será derrotada. Oiçamos a Oratória de Natal de JS Bach. Cada nota exalta o nascimento de Cristo.

[J.S. Bach - Christmas Oratorio BWV 248 - Part I 'For the First Day of Christmas' - Mvt. I]

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010