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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Música e vida

John Yardley - A break in Rehearsal

Tome-se a música como uma metáfora da vida. Na analogia que sustenta a metáfora, porém, há que considerar apenas  a ideia de um fluir dos sons de um princípio em direcção a um fim. Aquilo que se deve excluir, porém, é a ideia de ensaio. Os músicos ensaiam uma e outra vez até chegarem ao palco. Nós caímos no palco e sem qualquer ensaio temos de levar o concerto ou a sinfonia do princípio até ao fim. Sem pauta e, muitas vezes, sem maestro.

domingo, 10 de abril de 2016

O livro e a pauta

José Victoriano González - O Livro (1917)

O livro constituiu, dentro do campo da cultura ocidental, um elemento estruturante e decisivo. Este papel acabou por ocultar o verdadeiro carácter desse objecto. Esta ocultação era já pressentida no Fedro, de Platão, na crítica, que no mito narrado por Sócrates, o rei faz à escrita. Esta provocará nas almas o esquecimento, pois implicará, devido à confiança no registo escrito, a ausência de exercício da memória. A escrita e o livro, como lugar onde a escrita se concentra, acabaram por tomar um valor intrínseco. Ora, na vida espiritual o livro - seja de que âmbito for - não possui um valor por si próprio, mas enquanto objecto de mediação. O valor do livro reside na sua semelhança com a pauta musical. Esta só tem valor porque permite a interpretação. Também o livro e aquilo que ele contém são uma pauta que o leitor interpreta para produzir a música da existência, da sua própria existência.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Uma dança infinita

Cruzeiro Seixas - Dança Infinita (2007)

Propulsionado pela música, aquele que dança enfrenta o império da gravidade e eleva-se, por instantes, acima da terra, como se do alto uma voz o chamasse. A gravidade devolve-o ao chão, mas a música, a voz que vem do alto, não pára de chamar. E, mais uma vez, o corpo ergue-se e enfrenta aquilo que o arrasta para baixo numa ânsia infinita de responder ao chamamento. A vida do espírito não é outra coisa senão uma dança infinita.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O chefe de orquestra

Paul Ackerman - A orquestra

O homem não é um ser unidimensional. Pelo contrário, é composto por múltiplas dimensões que, como os instrumentos de uma orquestra, precisam de ser concatenados. O trabalho de concatenação cabe ao chefe da orquestra, ao espírito. Uma parte da vida espiritual está ligada à descoberta do maestro e à sua preparação. A outra parte é o trabalho deste na transformação de uma cacofonia numa peça musical sublime.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Um e o mesmo

Xaime Quessada - O piano (1957)

Não, não, a música não é um lenitivo ou um analgésico para as agruras da viagem. A música é um sinal que indica ao viandante que o mistério faz parte da sua viagem. Não é, porém, apenas um sinal do mistério, ela é ainda um símbolo. Na música, a voz que chama e aquele que escuta tornam-se um e o mesmo, como se, na viagem, o viandante, o caminho e o sempre adiado destino fossem um e o mesmo.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O imperativo musical

Ferdinand Schmutzer - Vienna (1901)

Escondestes estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. (Mateus, 11:27)

O que solicita a música ao espírito do homem? Que ele diminua, que se torne pequenino. Que o homem se torne pobre em espírito! Eis o imperativo musical. A música, como se fosse a emanação de um outro mundo, não se dirige à razão, mas ao que está acima dela e quer tornar-se o próprio do homem, a sua propriedade, a sua natureza.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A sombra do Natal

Kings College Choir - Christmas Carols 24 dec 2011

Talvez no dia 26 de Dezembro tudo volte ao que está e isso representará para muitos uma decepção, como se o Natal fosse uma trégua, mas uma trégua que não anuncia o fim da guerra. Essa decepção, porém, está fundada numa imagem infantil e mágica do Natal, imagem essa que se projecta na compreensão da vida e do mundo. Não se compreende que o milagre não está em o Natal transformar magicamente a vida com o seu cortejo de necessidades e malevolências, mas na sua própria existência. O milagre está em se ter descoberto uma noite e um dia onde a desumanidade contumaz da humanidade é questionada. Essa luz, ao embater na dura realidade de 26 de Dezembro, projectará uma sombra que, aqui e ali, lembrará aos homens que a vida não tem de ser um exercício contínuo de maldade e servidão. Exultemos. Um feliz Natal.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A música das esferas celestes

Francisco Iturrino - Romaria (1905-1909)

A tradição religiosa ocidental, cujo núcleo é o cristianismo, é atravessada por uma ambiguidade que nos pode deixar perplexos sobre o significado da vida neste mundo. Por um lado, ela é um vale de lágrimas onde os homens suspiram, gemem e choram. Por outro, é uma romaria, onde a peregrinação e a festividade se combinam num arraial em perpétua deslocação. Facilmente se percebe como estas duas concepções reflectem a visão do inferno e a do paraíso celeste. Mas isso é secundário. O essencial é compreender que as visões não devem ser opostas mas vistas como complementares. Sim, a vida pode ser um vale de lágrimas - para muitos, pelo sofrimento recebido, uma antevisão mesmo do inferno - mas aquele que peregrina, que vai na romaria, atravessa esse vale de lágrimas dançando e cantando, pois aquilo que chama por ele e o guia soa-lhe no coração como a mais pura e envolvente música. Provavelmente, a música que o velho Pitágoras dizia provir da revolução das esferas celestes e para a qual o hábito nos tornou surdos.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Arvo Pärt, St. John Passion


Passio Domini nostri Jesu Christi secundum Joannem

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

J.S. Bach - Christmas Oratorio BWV 248



Para quem, em peregrinação, por aqui passe, o Homo Viator deseja um Santo Natal. Exultemos e regozijemo-nos pelo nascimento do Salvador. Na desolação do presépio, nasceu um menino, e como todas as crianças, esta que nasce incansavelmente há mais de dois mil anos representa a convicção de que a vida vale a pena ser vivida, que a morte será derrotada. Oiçamos a Oratória de Natal de JS Bach. Cada nota exalta o nascimento de Cristo.

[J.S. Bach - Christmas Oratorio BWV 248 - Part I 'For the First Day of Christmas' - Mvt. I]

domingo, 11 de dezembro de 2011

Haikai do Viandante (16)

Le Merle Noir (Olivier Messiaen)

voa, no fim da tarde,
o melro negro anunciando
a noite que em ti arde.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Arvo Pärt - Most Holy Mother of God


No dia da Imaculada Conceição, uma composição belíssima de Arvo Pärt, nas extraordinárias vozes do Hilliard Ensemble, as quais tivemos o supremo prazer de escutar em Leira, há já alguns anos.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Allegri - Miserere Mei


Há alturas na vida que a única coisa que apetece fazer é entoar um Miserere. Pelo mal que fizemos? Não, pelo bem que não tivemos talento de fazer.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

Salve Regina, Arvo Pärt


Um salto no tempo, do tempo de Pergolesi (1710-1736) para o nosso, para Arvo Pärt, do Stabat Mater para a Salve Regina. Mas não por acaso, sempre sob a égide de Maria.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Stabat Mater, de GB Pergolesi (2)


Uma outra versão do Stabat Mater, de Pergolesi. A imagem que o autor do vídeo escolheu para acompanhar a peça musical é eloquente. Não é meramente uma mãe que chora a morte do seu filho. É ao mesmo tempo as dores da alma no parto do Verbo.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Stabat Mater, de GB Pergolesi



Stabat mater dolorosa
juxta Crucem lacrimosa
dum pendebat Fillius

(todo o texto aqui)

Nunca me canso de ouvir. Esta é a versão de que mais gosto (sopranista, embora aqui seja ainda uma criança, e contratenor). Não sei do que mais gosto, se do texto, se da composição de Giovanni Battista Pergolesi, se das excepcionais interpretações do Concerto Vocal, Sebastien Hennig e René Jacobs, Na transição que vai do primeiro verso Stabat mater dolorosa ao último paradisi gloria. Amen, o luto da mãe de Cristo transforma-se na vitória da vida sobre a morte, e percebemos como uma cena pascal é, ao mesmo tempo, a promessa do verdadeiro natal.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Haikai do Viandante (4)



Árvore ao vento,
traço de sombra no monte.
Uma folha cai.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Schubert - Jessye Norman: Ave Maria



Ave Maria! Jungfrau mild,
Erhöre einer Jungfrau Flehen,
Aus diesem Felsen starr und wild
Soll mein Gebet zu dir hinwehen.
Wir schlafen sicher bis zum Morgen,
Ob Menschen noch so grausam sind.
O Jungfrau, sieh der Jungfrau Sorgen,
O Mutter, hör ein bittend Kind!
Ave Maria!

Ave Maria! Unbefleckt!
Wenn wir auf diesen Fels hinsinken
Zum Schlaf, und uns dein Schutz bedeckt
Wird weich der harte Fels uns dünken.
Du lächelst, Rosendüfte wehen
In dieser dumpfen Felsenkluft,
O Mutter, höre Kindes Flehen,
O Jungfrau, eine Jungfrau ruft!
Ave Maria!

Ave Maria! Reine Magd!
Der Erde und der Luft Dämonen,
Von deines Auges Huld verjagt,
Sie können hier nicht bei uns wohnen,
Wir woll'n uns still dem Schicksal beugen,
Da uns dein heil'ger Trost anweht;
Der Jungfrau wolle hold dich neigen,
Dem Kind, das für den Vater fleht.

Ave Maria!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Haikai do Viandante (1)

Shakuhachi/Shamisen Duo

Um pássaro voa,
pedra de espuma e mar.
Floresta sombria.