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segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Sulcos de Verão 12

Ernst Ludwig Kirchner, Fehmarn houses,1908

Voraz, adormece o Verão,

entrega-se à sombra das folhas,

ao secreto pulsar da sede.

 

A terra ao céu pede água,

um clamor surdo no deserto,

o frio desejo das florestas.

 

Deixemo-nos contaminar

pelas promessas de Outono,

pelo pão e o vinho nas bocas.


Setembro de 2023

 

domingo, 10 de setembro de 2023

Sulcos de Verão 11

Vincent van Gogh, Paisaje cerca de Auvers bajo la lluvia, 1890

Chuvas de Verão sobre a terra

são memórias vindas do céu

para revigorar os dias.

 

Os homens parecem perdidos,

incapazes de olhar as águas,

incapazes de gratidão.

 

Caminho descalço no campo,

os pés enlameados riem

e eu sonho-me na infância.

 

Setembro de 2023 

sábado, 2 de setembro de 2023

Sulcos de Verão 10

Lucio Muñoz, Septiembre, 1985

De súbito, chegou Setembro

maculado por velhas sombras,

pelo carvão da nostalgia.

 

A cal das paredes recebe

a ondulação fria da luz,

o lamento triste do tempo.

 

A música do vento ecoa

pelas ruas cobertas de sílabas,

quase orações, quase silêncios.

 

Setembro de 2023

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Sulcos de Verão 9

António Dacosta, Sonho de Fernando Pessoa Debaixo de uma Latada numa Tarde de Verão, 1982 (aqui)

O Verão ainda caminha,

suspenso na altivez dos dias,

preso pelo sisal das horas.

 

Distribui sonhos e promessas,

rosas pelo Jardim do Éden,

fantasias que não cumprirá.

 

Abrigo na cinza da sombra

pensamentos nunca pensados,

palavras de amor nunca ditas.

 

Agosto de 2023

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Sulcos de Verão 8

Modesto Urgell Inglada, La fiesta mayor, procession

O vento do Norte reparte

as ninfas por fontes e rios,

traz aos dias os velhos mitos.

 

Agosto abre-se aos rumores

de festejos e procissões,

brilham os santos nos altares.

 

Desço a escadaria do tempo.

Sob a névoa de calor vejo

a luz de cada devoção.

 

Agosto de 2023

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Sulcos de Verão 7

Salvador Dali, Las llamas, llaman, 1942

São paisagens feitas de fogo.

Árvores antigas em chamas

caem na terra abrasada.

 

Ao mortal silêncio das aves

respondem clamores humanos,

a úlcera do desespero.

 

Ano após ano o deserto

cresce no espólio da vida,

ergue-se, mortalha da Terra.

 

Agosto de 2023

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Sulcos de Verão 6

Jakob Nussbaum, On the Beach at Port Said, 1925

 

Conto em silêncio os meses

para desenhar do Verão

os sulcos suados da sombra.

 

Na infância, o calor era

domado pelo véu do vento,

o verde a dançar nas árvores.

 

Se ouvia o grasnar das gaivotas,

os olhos perdiam-se na água

suspensa na luz do areal.

 

Agosto de 2023

sábado, 22 de julho de 2023

Sulcos de Verão 5

Laurence Stephen Lowry, Coming from the Mill, 1930

No desabrigo da cidade,

intermináveis são as tardes

destes dias de calor aceso.

 

Por terra, frutos de Verão

lembram ruínas esquecidas

pela incúria dos homens.

 

Longos silêncios de domingo

são rugas nascidas do tempo,

preces ao Deus abandonado.

 

Julho de 2023

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Sulcos de Verão 4

Kazimir Malevich, River in the forest

O Verão desfraldou bandeiras

sobre a paisagem ressequida,

sobre as águas pardas do rio.

 

Os corpos são sombras ligeiras,

tomados pela calmaria

das tardes que nunca têm fim.

 

Ouve-se o ramalhar das árvores.

Ouve-se um cântico nas margens.

Ouve-se o júbilo de Julho.

 

Julho de 2023

 

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Sulcos de Verão 3

Maurice Denis, Paradise, 1912

Envolto em fogo de artifício,

também o Verão foi trazido

pela barcaça do destino.

 

Juiz rude, sem piedade,

distribui pela terra frágil

as suas sentenças ardentes.

 

Sonho sombras e solidão,

a vinda de um Outono eterno,

luz do paraíso perdido.

 

Julho de 2023

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Sulcos de Verão 2

Eusebio Sempere, Verano, 1965

O ardor do fogo cintila,

mácula na pele rasgada

pelo dardejar dos incêndios.

 

Os corpos rastejam na sombra,

pedem a clemência da água,

o vento frio vindo do Norte.

 

Junho passa inflamado e rude

pelas ruas vazias de vida,

pelas almas ébrias de sonhos.

 

Junho de 2023

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Sulcos de Verão 1

Edvard Munch, Día de verano, 1904-1908

Como uma velha assombração

chega a verruma do Estio

cingida na luz do silêncio.

 

Os dias abrem-se em sonhos,

promessas de glória nos mares,

o olhar perdido na névoa.

 

Sento-me na sombra da tília,

oiço no rumor da memória

o verde Verão da infância.

 

Junho de 2023