quinta-feira, 19 de julho de 2012

Poemas do Viandante (304)

João Queiroz - Desenhos a carvão

304. QUE FAÇO DESTE RISCO NO PAPEL

que faço deste risco no papel
ardil de um bosque
uma sombra ensanguentada na manhã
a tua pulsação na ânsia
do amor

deixo que chegues no traço enovelado
penso-te e és nuvem
sobre montanha alcantilada
céu denso e negro
água pura a chover sobre mim

uma luz indecisa ruboresce no oriente
e uma saraivada de pássaros acorda
as folhas na madrugada
as estrelas debandam
na estranha paisagem dos teus olhos

se me sento no chão ao teu lado
vejo de perfil a angústia
santuário inexplicável
noite tempestuosa
na serena mágoa do acontecer

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