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terça-feira, 9 de agosto de 2016

A mulher adúltera e a consciência de si

Max Beckmann - Christ and the Woman Taken in Adultery (1917)

Um episódio central para compreender a dependência da modernidade ocidental - aparentemente, tão pouco cristã - do cristianismo é o da mulher adúltera (João 8:1-11). Dois elementos evidenciam já a ultrapassagem da leitura formal da tradição. Em primeiro lugar, a não condenação da mulher em contradição com a lei mosaica. Essa não condenação, porém, emerge da afirmação da subjectividade dos actores do episódio, dos acusadores e da acusada, e este é o segundo elemento. É a confrontação com a sua subjectividade que leva os acusadores a abandonar o projecto da acusação. A própria mulher é posta diante de si mesma e da sua consciência nas palavras finais de Cristo. O que há de notável neste episódio - mais do que a retórica gasta e inútil do amor - é o confronto entre as estruturas objectivas do mundo social exterior aos indivíduos e a consciência subjectiva. E é nesta que tudo agora se deverá decidir.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Eclipses

Eugène Atget - Eclipse (1911)

Num eclipse, um astro oculta outro. Os eclipses, todavia, não são meros fenómenos astronómicos. Também no homem existem eclipses, quase sempre persistentes. Aí o indivíduo, ansioso da sua subjectividade, acaba por se eclipsar a si mesmo.

terça-feira, 11 de junho de 2013

O viajante invisível

Vieira da Silva - O passeante invisível (1951)

Um rasto de luz, apenas. A tradição moderna, que tem em Descartes e na sua angustiante busca da certeza um primeiro marco, é a mais avessa das tradições à aventura do espírito. Nela, o espírito reduziu-se à subjectividade, e tudo gira em torno do sujeito, seja a glória e a honra, seja a humilhação e a patologia. Mas todas essas figuras da vitória e da derrota do sujeito são apenas a compensação de um sentimento de desconfiança perante a possibilidade da fé no sujeito ser falsa. A aventura espiritual é, antes de mais, uma luta contra a ilusão da subjectividade. Aquele que se põe a caminho dirige-se para a hora em que se torna no viajante invisível. Ao passar, não deixa pegada nem sombra de corpo, apenas um rasto de luz.