Chaim Soutine - Landscape with Ascending Road (1918)
Seguia o caminho que devia seguir, com um passo indolente e irregular, assobiando e olhando ao longe, a cabeça inclinada para o lado, e se se enganava no caminho, é porque para certos seres não existe verdadeiro caminho.
Quando se lhe perguntava o que ele pensava vir a ser, dava respostas variáveis, pois tinha o hábito de dizer (já o tinha notado) que trazia nele as possibilidades de uma quantidade de existências, juntas à consciência secreta que elas eram, no fundo, puras impossibilidades. (Thomas Mann, Tonio Kröger)
Se a natureza quer perder alguém, nada melhor do que dotá-lo de múltiplas capacidades e fazer suspeitar nesse alguém inúmeras vidas possíveis. Atraído pela exuberância dos dotes, experimenta mil caminhos. Todos são os seus caminhos, mas na verdade nenhum é o caminho. A vida torna-se pura perda, incapacidade de escolha, ausência de fim, um tormento silencioso e cumulado de derrotas. Quantas vezes essa pessoa deseja, no fundo de si mesma, um horizonte tranquilo, apenas rasgado pelo caminho ascendente que o levará à meta, à única meta que lhe diz respeito. Mas a ele não lhe cabe esse destino, pois é um viandante sem caminho. Melhor, é um viandante perdido no seu próprio labirinto.
Creio que a maior parte de nós é assim, um viandante sem caminho certo...fazemos é de conta que estamos no caminho certo, ocultando o alto grau de incerteza sempre latente...
ResponderEliminarTalvez seja assim com a maioria, embora desconfie que poucos sentem que trazem em si "as possibilidades de uma quantidade de existências", para falar à maneira de Tonio Kröger (ou Thomas Mann, ou Fernando Pessoa). Mas conheço e conheci gente que o seu caminho desde muito cedo era claro e distinto.
EliminarTalvez tenha sido claro e distinto pelas circunstâncias desse homem ou mulher e não pela alma/almas que os habitava...
ResponderEliminarTalvez sejam as circunstâncias, talvez seja tudo, isto é, como dizia o Ortega y Gasset, o homem é o homem e a sua circunstância.
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