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terça-feira, 23 de junho de 2015

Dúvida e crença

Francisco Arjona - ¡Adelante con la duda! (1985)

A dúvida é um elemento estrutural de qualquer crença, tenha esta uma natureza epistemológica, moral, estética ou religiosa. Duvidar não é uma acção contra-natura do homem, pelo contrário. Duvidar é reconhecer os limites e a finitude dos seres humanos. A crença ou a fé de um homem que não duvida é destituída de qualquer valor, pois assenta numa denegação da sua condição, numa revolta contra a natureza limitada dos seus poderes, numa pretensão a um saber absoluto, seja qual for a área em que se manifeste esta crença. Em linguagem religiosa, esse tipo de fé não é outra coisa senão o pecado do orgulho.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Por que duvidaste?

Norman Narotzky - All life is there (1984)

E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste? (Mateus 14:31)

Esta pergunta - por que duvidaste? - fica sem resposta. Pedro não disse nada. Este silêncio, porém, é eloquente e dá que pensar. Situa-se no encontro conflitual entre fé e dúvida. Qual o significado do silêncio de Pedro? A finitude da sua humanidade indica que esse conflito é constitutivo do homem. Enquanto ser natural dotado de razão, o homem está cindido entre a crença absoluta e a dúvida. Pedro não respondeu pois a sua natureza era a resposta. Duvidar faz parte da condição humana. Para que apenas a fé mais pura brilhasse, seria necessário que Pedro, sendo humano, fosse mais do que um homem. E foi isto o que, por várias vezes e em diferentes circunstâncias, lhe foi pedido.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Estar em vigília

Thomas Merton diz, em Semences de contemplation, que "não esperamos na contemplação, evadir-nos da luta, da angústia ou da dúvida." Procurar o caminho do espírito não é uma estratégia de alienação. Se me ponho a caminho não é para fazer disso um analgésico para as dores que o mundo, ou a vida, ou as ilusões que eu próprio crio. Pôr-se a caminho é manter-se atento e desperto. Em vigília. Estar em vigília é abrir-se para o conflito entre a minha mundanidade e aquilo que está para além dela e nela se oculta. Estar em vigília é aceitar plenamente a angústia da incerteza ou o tormento da dúvida sobre o caminho que se tomou. O caminho do espírito não é uma diminuição da nossa natureza humana. Pelo contrário, é o começo de nos tornarmos verdadeira e completamente humanos.

sábado, 10 de maio de 2008

A tempestade da dúvida

Há quem tenha uma fé substancial, uma fé capaz de mover montanhas, uma fé clara e distinta. Eu, porém, sinto-me atravessado pela tempestade da dúvida, da incerteza, da impossibilidade de me tornar num Atlas e carregar às minhas costas um mundo, tão pouco uma montanha. Se a fé é a crença e aceitação da revelação, a dúvida é a natureza do espírito que procura um caminho. Talvez a minha fé só possa nascer desse espírito que procura e a dúvida seja um sintoma da vida que cresce e se fortalece e na força que assim vai nascendo encontra a fidelidade ao que, na obscuridade, me chama. Talvez não haja verdadeira fé sem o tempero da dúvida. Quanto maior for uma, mais forte será a outra.