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sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Geometrias de fogo (36)

Hugo Canoilas, Formas de vida simples que regressam ao mar, 2020-2023 (Gulbenkian)

Um fogo terrestre, selvagem como uma estrela do mar, transborda da dureza da rocha e inclina-se para o oceano. É um fogo incansável, desejoso de metamorfose, lava feita animal. Um grito fulgurante da Terra; um trovão ecoa na esfera celeste. 

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Geometrias de fogo (35)

Edward Hopper, People in the Sun, 1960

No Sol, manifesta-se o fogo, aquele que arde na alma e rumoreja no espírito. Perdidos na Terra, os homens voltam-se para esse astro benevolente, como se se voltassem para dentro de si para descobrir aquilo que lhes anima a vontade e incendeia a imaginação.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Geometrias de fogo (34)

Van Gogh, Pollard Willows with Setting Sun, 1888

O Sol, ao pôr-se, desenha estranhas paisagens, onde nascem, na lentidão da tarde, reflexos e imagens que não pertencem a este mundo, mas que encontram nessas geografias esboçadas pelo crepúsculo o seu lugar e a casa de que fazem a mais viva das moradas.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Geometrias de fogo (33)

Marc Chagall, The Sun of Paris, 1975

Um círculo do fogo no céu abre um mar vermelho no horizonte. Como veleiros, os pássaros navegam nas alturas o esplendor da luz. São anjos tocados pelo silêncio, promessas de vida abertas na folhagem da esperança, um rasto de verde no crivo aceso da paixão.

domingo, 28 de julho de 2024

Geometrias de fogo (32)

Fred Kradolfer, sem título, 1930 (Gulbenkian)

O fogo solar reparte-se na Terra, usa geometrias ocasionais para levar a luz e a sombra ao lugares em que os homens as esperam. Cansado, recolhe-se no ilimitado dos céus e oculto distribui as trevas como quem descansa e respira lentamente, até que, recomposto, volte à tarefa que um fado inexorável, na mecânica do universo, lhe destinou.

domingo, 23 de junho de 2024

Geometrias de fogo (31)

Hubert Robert, Roman Ruins, 1773

Por detrás da ruína do mundo, ergue-se o fogo inquieto do espírito. Quando tudo se reduz a cinzas pelo deambular das labaredas, pela desmedida do incêndio, sobe do chão calcinado aquilo que nunca foi visto, nem dito, nem pensado. Então, o espírito traça novas geometrias, descobre um espaço inédito e inventa outro tempo mais próximo da eternidade.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Geometrias de fogo (30)

Paula Rego, Contos populares portugueses, 1975 (Gulbenkian)

Há no fogo uma beleza rude, o exercício de um fascínio arcaico, a promessa de uma grande espectáculo. As labaredas dançam e o espírito deixa-se contaminar pela variação e mudança que elas, como um velho dragão, sopram sobre o mundo. Tudo muda, pensa-se, enquanto o fogo permanece firme na sua impermanência.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Geometrias de fogo (29)

José Dominguez Alvarez, Rua ao Sol, 1930 (Gulbenkian)

A impiedade do fogo cai sobe a praça. Traz em si uma premonição infernal, pesadelos a assombrar almas que tremem perante um mundo rodeado de labaredas. Os homens, para se esconder da maldição, percorrem as sombras num ir e vir até que o Sol se esconda e o fogo se perca para lá da linha do horizonte.

sábado, 30 de março de 2024

Geometrias de fogo (28)

Michel Kidner, Orange, Pink and Violet, 1964 (Gulbenkian)

O fogo decompõe-se e pacientemente elabora um catálogo de cores, onde a cada cor corresponde uma emoção, um sentimento, um desejo, uma paixão, pois não há fogo no mundo que não emane de um incêndio interior, daquilo que nos homens está em combustão, arde-lhe no sangue e surge no mundo na imobilidade do olhar.

terça-feira, 12 de março de 2024

Geometrias de fogo (27)

Joaquim Rodrigo, Trás-os-Montes, 1964 (Gulbenkian)

Há uma geometria de fogo na geografia da Terra. A incandescência esconde-se para além do horizonte, mas retorna sobre as planícies, as montanhas e os vales, desenhando triângulos e rectângulos. Por vezes, deslizam do céu círculos perfeitos. Logo se transformam em hexágonos e, mais à frente, em pentágonos. Quando a Lua nasce, o fogo é reabsorvido pela noite e a Terra descansa da sua ardente geografia.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Geometrias de fogo (26)

Anton Zwengauer, Landscape with Deer at Sunset, 1847

Era um lago habitado por um fogo plácido, um incêndio de pétalas reconciliado com a água e a terra, desejoso de serenidade, amante dos dias de sol e das noites estreladas. Um fogo feito de frutos resplandecentes e de esperanças sensatas, um fogo inclinado para o crepúsculo, um fogo que se move lentamente entre ás águas paradas e o sangue desatinado do coração.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Geometrias de fogo (25)

Vincent Van Gogh, Olive Trees with Yellow Sky and Sun, 1889

O sol envia dardos de fogo e a terra abre-se para que eles a penetrem com a sua ardência fulgurante. É um fogo cintilante que aquece os mundo subterrâneos, crepita no silêncio das noites, toca as raízes húmidas das oliveiras, sobe-lhes pelos troncos e ramos até que nos lagares os frutos se metamorfoseiam num incêndio líquido, belo como uma promessa há muito feita e agora realizada.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Geometrias de fogo (24)

Noronha da Costa, Pôr do Sol (Gulbenkian)

O sol cinda-se em línguas de fogo. Ao arderem, abrem a terra aos segredos do céu. Brilham na antecâmara da noite, dançam trémulas na casa do crepúsculo, contorcem-se em ondas luminosas, como se nelas houvesse a presença de um abecedário que, tocado pela cintilação do fogo, se desdobrasse em mil línguas, conhecidas e desconhecidas, públicas e secretas, puras e impuras.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Geometrias de fogo (23)

Felix Vallotton, sem título, 1917

A devastação trazida pelo fogo cresce em nuvens negras de fumo. Na terra queimada, as árvores são cadáveres hirtos, com os ramos apontando para os céus. De todos os lados que se olhe, apenas se vê uma paisagem feita de desolação e dor. As labaredas, ainda vivas, continuam a cintilar. São um sinal na terra, uma admoestação caída dos céus.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Geometrias de fogo (22)

Hans Thoma, The War, 1907

O fogo é o pólen da guerra, fecunda o solo para que seja um pasto sem fim de chamas, um incêndio que atravessa dia e noite, rompe a muralha dos anos e se instala no coração com o ardor de um ódio tão persistente que nem o passar das gerações apagará. Nas planícies, os corpos calcinados são estátuas em honra da devastação trazida pela ira vulcânica dos homens.

domingo, 12 de novembro de 2023

Geometrias de fogo (21)

Hans Baldung Grien, Two Witches, 1523
A ficção das feiticeiras nasce na ardência do fogo. Imagina-se no despudor do seu corpo poderes nascidos na fímbria dos infernos e trazidos por artes mágicas à superfície da terra, para incendiar imaginações e atear as labaredas onde os seus corpos arderão em nome da purificação das almas.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Geometrias de fogo (20)

Johan Christian Clausen Dahl, The Eruption of Vesuvius in December 1820, 1826

Vindo do centro da Terra, o fogo dança na boca do vulcão. Ao longe, ouve-se o ronco ameaçador de uma canção de desespero. Espera-se, no silêncio das noites e na luz de cada dia, que o deus adormeça e o trabalho da sua oficina sossegue, para que os pássaros cruzem os céus e os homens lavrem a terra.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Geometrias de fogo (19)

Joan Miró, Pintura sobre fondo blanco (El pájaro de fuego), 1927
O fogo é um pássaro branco a cintilar no horizonte. Abre as asas sobre campos e florestas e cobre com o seu discurso de dor as paisagens maceradas pelo Estio e as sombras sedentas do ardor da aurora primordial.

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Geometrias de fogo (18)

Helmut Middendorf, Elektrische Nacht, 1979

Como num perpétuo inferno, seres humanos mergulhados num destino de trevas entregam-se ao flamejar ansioso das labaredas nascidas no fundo obscuro do coração. Dançam homens e dança o fogo, a realidade contorce-se em geometrias de abandono e insignificância, o desespero move-se pelo território que recebeu em herança. Tudo arde.

quarta-feira, 26 de julho de 2023

Geometrias de fogo (17)

Vincent van Gogh, Olive Trees with Yellow Sky and Sun, 1889
Os raios solares entram pela terra e adormecem longos meses para, chegada a hora, renascerem como mil frutos das oliveiras que, ao transformarem-se no mais puro dos azeites, alimentarão as pequenas chamas que guiarão os homens na sua peregrinação por campos e cidades ou lhe darão a luz que, na sombra da casa, os abrirá ao mais secreto dos segredos.