Um dia de calor. Tudo se torna mais difícil. Aquilo que se exige é agora, mais que em outros dias, um campo de negação de si mesmo, um território de oblação e sacrifício. Cumprir cada uma das tarefas, não esperando nada delas, mas oferecendo-as como aprendizagem do esquecimento de si. Uso a palavra dessubjectivação. Este cumprir do dever como uma entrega e negação da vontade própria é uma forma de dessubjectivação, um rasgar da máscara, um passo para além da ilusão da nossa substancialidade. A dessubjectivação não é obrigatoriamente, como muitas vezes acontece, uma alienação, um estranhamento. Pode ser um passo para a clareira onde O que não vemos se manifesta. No sacrifício das tarefas quotidianas encontramos um caminho, um difícil caminho para quem sente o apelo da quietude. Mas há que cumprir essa Vontade que não é a nossa.
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segunda-feira, 5 de julho de 2010
quarta-feira, 21 de maio de 2008
A negação de si
Negar-me a mim mesmo, negar as ilusões que sobre mim construo a cada hora que passa, negar o equívoco da minha importância. Mas como cumprir este programa, se todas as forças da natureza lutam com afinco para reforçar esse eu que devo negar? Não há nada mais humano que essa pequena palavra à qual atribuo todos os actos que pratico, os pensamentos que me ocorrem, as omissões que acontecem. Mais, a tarefa de negar-me ainda traz a prescrição de, nessa negação, não cair na abjecção pré-humana, no estado do animal incapaz de se identificar. Se penso, porém, no referente desse eu, se o começo a desmembrar pela análise, se lhe aplico o olho clínico, descubro que esse que diz eu é tão evanescente que o eu, essa impertinente partícula gramatical, parece ser-lhe a sua tábua de salvação, aquilo que na evanescência dá estabilidade. Negar-me a mim mesmo é perder a estabilidade. A negação de si implica então que se caminhe na instabilidade e na evanescência, que se mergulhe no fluxo da vida sem uma bóia. Onde, porém, irei buscar forças para essa caminhada?
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