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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Da liberdade

Francisco Iturrino - Potros en el campo (1912-14)

Inúmeras vezes se simboliza a liberdade dos homens através da analogia com os animais em plena natureza. Este é um equívoco fundamental. A natureza e a vida dos animais é comandada pela necessidade, pela mais estrita necessidade. A liberdade começa quando, movido pelo espírito, o homem se afasta da manada e limita, tanto quanto pode, a necessidade.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Da tempestade

Léonard Misonne - A Storm Arrive

Também as tempestades fazem o caminho do viandante. Não, não digo que fazem parte do caminho. Digo antes que elas também são o caminho. Fazer parte do caminho seria ainda dizer que se podem evitar, que enfrentá-las ou não está na mais do viajante, no seu arbítrio. Se elas também são o caminho, isso significa que não está nas mãos do viandante vivê-las ou não. Elas impõem-se-lhe, são uma necessidade inexorável, uma disciplina obrigatório num currículo que sendo o seu o ultrapassa infinitamente.

terça-feira, 9 de junho de 2015

A sacralidade do pão

Nicolas de Staël - O Pão (1955)

A natureza sagrada do pão não deriva da Última Ceia e da instituição da Eucaristia por Cristo. Diria antes que essa instituição foi feita porque o pão era já um símbolo sagrado. Nele se conjugava a vitória da humanidade sobre a dura necessidade natural e a descoberta de uma liberdade que eleva o homem acima da natureza. O pão era, na verdade, sentido como um verdadeiro milagre, uma dádiva, um dom, o qual não poderia ser a criação de um mero animal mesmo racional. A racionalidade era sentida como a capacidade de acolher o dom e não de o criar por si mesmo.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Nos caminhos que se cruzam

JCM - Black & White Dreams (2014)

Imaginar a viagem como um exercício infinito de escolha entre caminhos que se cruzam. Uma viagem sem mapa, sem roteiro, sem bússola. O viandante, despido de todos os dispositivos de orientação, entrega-se  à pura disposição da graça, como se cada escolha fosse, ao mesmo tempo, a realização da mais pura liberdade e o cumprimento de uma insuperável necessidade.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A sombra do Natal

Kings College Choir - Christmas Carols 24 dec 2011

Talvez no dia 26 de Dezembro tudo volte ao que está e isso representará para muitos uma decepção, como se o Natal fosse uma trégua, mas uma trégua que não anuncia o fim da guerra. Essa decepção, porém, está fundada numa imagem infantil e mágica do Natal, imagem essa que se projecta na compreensão da vida e do mundo. Não se compreende que o milagre não está em o Natal transformar magicamente a vida com o seu cortejo de necessidades e malevolências, mas na sua própria existência. O milagre está em se ter descoberto uma noite e um dia onde a desumanidade contumaz da humanidade é questionada. Essa luz, ao embater na dura realidade de 26 de Dezembro, projectará uma sombra que, aqui e ali, lembrará aos homens que a vida não tem de ser um exercício contínuo de maldade e servidão. Exultemos. Um feliz Natal.

domingo, 17 de novembro de 2013

A libertação do destino

Raquel Forner - Destinos (1939)

Se o viandante se põe a caminho não é para cumprir um destino ou para certificar a inexorabilidade de um fado. Não, o pôr-se a caminho do viandante visa enfrentar o destino e dissolver a fatalidade. A vida espiritual é a aprendizagem íntima de ser livre, a conquista da liberdade. Não da mera liberdade social, mas da liberdade que nasce da emancipação da fria e cruel necessidade, que nasce da libertação de todos os fados e de todos os destinos.

domingo, 5 de maio de 2013

Um espaço para a liberdade

Giorgio de Chirico - El enigma de la fatalidad (1914)

O determinismo - crença de que tudo o que acontece se regula por uma causalidade necessária - é uma espécie de secularização do fatalismo metafísico. Uma providência inescrutável determina a priori a ordem do mundo e o destino de cada um. Muito curiosamente, não foi a ciência moderna que libertou os homens da pesada mão da fatalidade mas as religiões, na sua dimensão de experiência espiritual. A liberdade foi uma criação do espírito religioso - e de forma absolutamente acentuada do espírito do cristianismo - que abriu uma brecha entre a fatalidade metafísica e o determinismo secular, lembrando aos homens que são feitos para a liberdade, fornecendo-lhes mesmo métodos de emancipação e de libertação da subjugação à pura necessidade. Na verdade, aquilo que está em causa nas religiões - apesar de tantas vezes obscurecido - é esta possibilidade de ser livre, é esta proposta de emancipação da fatalidade do mundo.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Caminhos do espírito

Gustav Klimt - Beech Forest I (1902)

A beleza da terra juncada pelas folhas mortas é o sinal que traz a certeza de que outras folhas amanhã nascerão. Há um momento na vida em que se aprende a ver na própria morte o sinal da vida triunfante. Quantas vezes é necessário descer ao mais fundo cepticismo para que uma luz nasça no espírito e traga a certeza que a floresta se cobrirá de novo pelo verde mais radioso? Trevas e luz, cepticismo e certeza, são apenas etapas a que o espírito, no caminho que é o seu, deve percorrer na sua livre necessidade ou na sua necessária liberdade.