Mostrar mensagens com a etiqueta Luz. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Luz. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Meditação breve (50) - Luz e trevas

René Burri - Tower by Luis Barragán (pictured in doorway), Mexico City. 1969

O fascínio provocado pelas trevas é tão grande quanto o provocado pela luz. Se o caminho das trevas apenas pode ser tomado sob o efeito desse fascínio, o caminho da luz impõe uma longa purificação da consciência fascinada.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Meditação breve (43) - Quase Negro

Gustavo Torner - Casi Negro

Esse resquício de luz que separa o quase negro da escuridão total não é sinal do caminho que falta percorrer até à treva absoluta. É antes a prova de que a luz persiste inabalavelmente nas piores situações e de que a noite nunca será plena.

sábado, 6 de maio de 2017

A fresta

Gilbert de Chambertrand - Paris Street, 1930s

De que se fala quando se fala de vida espiritual? Essencialmente de três coisas. De busca, de fresta e de luz. Ao homem foi dado, como circunstância da sua vida, o reino da sombra. Por vezes, afunda-se nas trevas exteriores ou interiores. A vida espiritual, porém, é a busca sem fim da fresta, uma pequena fresta, por onde a luz possa entrar na sua vida. Se a queda nas trevas é o apagamento de todo o sentido, a busca de uma fresta por onde a luz possa penetrar é a viagem incerta para a terra do sentido e da significação. O que dá sentido a uma existência? Qual a sua significação?

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Das trevas

Albert Gleizes - O centro negro (1925)

Há duas espécies de trevas na vida do espírito. A primeira espécie é objectiva. Resulta da ausência absoluta de luz. São as trevas exteriores. A segunda é subjectiva. A luz é de tal maneira intensa que o espírito fica cego. São as trevas interiores. Às primeiras resta sempre a expectativa de que um foco de luz as ilumine. Às segundas há que aceitá-las e aprender a navegar na escuridão.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Caminho de sombras

Mateo Vilagrasa - Camino de sombras (1997)

A experiência da duração, do trânsito do tempo e da contínua mudança, torna manifesto que a vida do homem sobre a Terra é, na verdade, um caminho de sombras. Aquilo que, por um instante, pareceu luminoso, logo se torna sombrio, até que o passado o encerra na escuridão. Talvez o homem não avance de claridade em claridade, mas ande de sombra em sombra. Em cada uma, haverá a sua dose de luz e o seu quinhão de trevas. Perante uma luz infinita, o aparente progresso que a expressão "de claridade em claridade" parece significar torna-se risível. Esta ideia de um progresso para a luz é ainda um elemento sombrio que se espalha sobre o homem e o conduz pelo caminho das sombras.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A cegueira de Édipo

André Masson - Édipo (1939)

Das múltiplas peripécias da vida de Édipo, a mais decisiva de todas é a que ocorre quando ele se cega. Nem o abandono à morte pelos pais, nem o salvamento miraculoso e a subsequente adopção por Pólibo, rei de Corinto, nem o assassinato do verdadeiro pai, tão pouco a derrota da esfinge e o casamento com a sua mãe e a coroação como rei de Tebas possuem o significado espiritual da cegueira auto-infligida. Em todos os momentos anteriores, Édipo move-se segundo o senso comum que pertencia à sua casta. E esse mover-se no que é comum está intimamente ligado ao seu desconhecimento de si mesmo. A revelação da identidade tonou-o cego para o que é o comum, tornou-o indivíduo e abriu os seus olhos para uma luz que não é visível. Édipo, ao cegar-se, tornou-se indivíduo e sábio. Abandonou o caminho do herói, a procura da glória, e a vida do espírito, como um caminho apenas seu, abriu-se diante dele.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

A casa do Homem

Felix Vallotton - In the Shadow (1916)

Pensamos, em primeiro lugar, a sombra como o lugar do mal. Este não suportaria a sua exposição à luz, que o denunciaria, e recolhe-se na sombra para exercer o seu império. Num segundo momento, constatamos que a pura luz seria insuportável mesmo para o bem. A intensidade da luz tornar-nos-ia cegos. Por fim, percebemos que a sombra é o lugar do homem, tanto para o mal como para o bem. Nem as trevas absolutas nem a pura a luz, mas a sombra. É neste registo sombrio que uns caminham de claridade em claridade, mas sempre sob a protecção da sombra, e outros vão de escuridão em escuridão, mas ainda e sempre na forma de sombra, cada vez mais densa. A sombra é a casa do homem sobre a Terra.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

A luz da clareira

Jacqueline Lamba - Clareira (1942)

A clareira é o lugar onde se manifesta aquilo que a sombra oculta. Trazer à luz da clareira é o fim supremo que se coloca à vida dos homens. É na clareira que o que nunca foi pensado, o que nunca foi dito, o que nunca foi descoberto ganha vida. Cada homem, porém, é para si mesmo o mais difícil de trazer à luz da clareira.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Visões nocturnas

Joan Miró - Nocturno (1940)

As visões nocturnas, a noite escura da alma de que falava João da Cruz, são, num primeiro olhar, o negativo, em sentido fotográfico, das visões luminosas, aquilo que, verdadeiramente, permite estas. Na verdade, porém, elas são outra coisa. São o encontro com a própria luz, que de tão intensa torna tudo obscuro. 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

De sombra em sombra

Paul Ackerman - Les choses deviennent peut-être plus claires dans l'ombre

A sombra não é o lugar do sombrio e do ameaçador para o homem. É, na verdade, o lugar cuja luz o homem pode suportar. Quando João, o Evangelista, escreve a luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a compreenderam, estava a dizer isto mesmo: o homem não suporta a luz mais pura. O seu lugar é a sombra. Pode, claro, avançar em direcção à luz, mas é sempre um avanço de sombra em sombra.

segunda-feira, 21 de março de 2016

As cores

Rodríguez Castelao - As cores (1931)

Também as cores assinalam o caminho na viagem. Primeiro prendem o espírito à sua diversidade. Depois, passado o encantamento estético, tornam-se uma ordem onde o viandante aprende a ler, gradualmente, o progresso no caminho que o conduz das trevas mais densas à luz mais pura.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Aprender a anoitecer

Vincent Van Gogh - Anoitecer (1889)

Aprender a anoitecer. O viandante traz em si demasiada luz e a viagem não é mais que um aprender a fazer noite em si mesmo. Aquele que aprendeu a anoitecer esqueceu-se de si e, abandonando-se ao vento que sopra onde quer, extinguiu a sua luz, para que uma outra Luz possa brilhar nas trevas.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Lugares negros


Georgia O'keeffe - Black Place III (1944)


A relação entre a vida espiritual e os lugares negros é central. Por lugar negro deve-se entender qualquer lugar onde o espírito não penetrou. O trabalho do espírito não é outro senão fazer com que a luz resplandeça nas trevas, mesmo que estas não compreendam a luz e não a reconheçam.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A luz e o fogo

Max Klinger - O roubo do fogo

Como a luz, segundo João, também o fogo foi dado aos homens. A luz resplandece nas trevas, mas os homens não conseguem compreendê-la e, por isso, essa dádiva pura não toca os homens, fechados para o dom. O fogo, que os homens usam, foi o produto de um roubo e esse roubo limita a dádiva de Prometeu. O fogo não ilumina os homens, não porque estes sejam incapazes de o compreender, mas porque ele, devido à sua origem obscura, não traz consigo a luz.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O segredo do amanhecer

Guillermo Trujillo - Amanecer Chocoe (2000)

Há um momento do amanhecer em que tudo parece suspenso. A luz e as trevas travam uma dura batalha pela vitória. Nesse momento de indecisão, aquele que toma a natureza como um símbolo a meditar encontra um segredo. Não um segredo que esteja oculto e que a curiosidade pode revelar. Encontra um efectivo segredo que está velado e sobre o qual não há revelação possível. O segredo é o da estranha fraternidade entre luz e trevas, o das suas núpcias nas horas indecisas dos crepúsculos. Aquilo que não tem revelação é aquilo que dá que pensar, mas o pensar é ainda e só uma preparação para enfrentar o mistério, perante o qual a razão experimenta o seu limite e a sua impotência.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Um luar nas trevas

Felix Vallotton - Luar (1895)

Muitas vezes a razão é vista através da metáfora da luz solar, pensando-se, através de uma analogia, que assim como a luz do Sol ilumina a Terra, também a razão ilumina a realidade e permite ao homem compreendê-la. Se a nossa espécie não fosse tão narcísica, tomaria como termo de comparação para a sua razão a luz da Lua e não a do Sol. Isso estaria mais de acordo com os resultados e as decepções que a razão, ao longo da história dos homens, trouxe consigo. A luz da razão pode ser bela, mas não passa de um luar que, com dificuldade, fende as trevas exteriores.

domingo, 21 de junho de 2015

Condição lunar

Georges Rouault - ... ao chegar a noite, saiu a lua (1930)

O homem é a lua sobre a terra. Como ela, ele pode reflectir uma luz cuja intensidade o ultrapassa e cuja origem está fora e muito acima dele. Esta sua condição lunar acentua-se quando a luz que o ilumina é interceptada e ele fica na escuridão. Também nessa hora ele é como a lua, é lua nova e às trevas ele tem o condão de acrescentar outras trevas.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Aprender a anoitecer

Max Klinger - Noite

A noite carrega consigo múltiplas e antagónicas simbolizações. É inútil esboçá-las sequer. Inerente, porém, ao fascínio da noite é também a expectativa da vinda do dia e da luz. João da Cruz tematiza a noite escura como esse sentimento de abandono que o crente sente na viagem espiritual. Mas como pode o homem perdido no mundo, guiado pela luz natural dos sentidos e da razão, entrar sequer nessa escura noite de que fala o místico castelhano? Talvez a resposta esteja ainda na noite. Terá de aprender a anoitecer, aprender a ver a luz dos sentidos e a da razão como pura obscuridade e obstáculo no caminho.

sábado, 28 de março de 2015

O destino de Ícaro

Henri Matisse - Ícaro (1943-44)

No destino de Ícaro simboliza-se a condição do homem. Nem demasiado perto das profundidades das águas nem excessivamente chegado à luz do sol. Atraído pela luz, as asas derreteram e a queda foi o destino de Ícaro. Esta queda não deixa de ter uma ambivalência estrutural. Significou a morte e, ao mesmo tempo, a entrada na vida. A morte da sua condição sobre-humana; a vida pela sua redução à mera humanidade. Com Ícaro aprende-se que não cabe ao homem submeter a luz ao seu desejo, mas é sua condição esperar que ela chegue e o ilumine.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Iluminar a luz

Edward Hopper - Sun in an Empty Room (1963)

A modernidade trouxe consigo a ideia de que a razão continha uma luz própria que deveria ser derramada sobre o mundo para o ordenar, melhorar, refazer. Hoje, que o cansaço de ser moderno se tornou patente em todos os lugares, aquilo que o viandante pretende na sua viagem é deitar fora o desperdício com que a razão lhe ocupou o espírito, para que este, vazio, possa receber uma outra luz, aquela que poderá iluminar a luz da própria razão.