Pintura e haikus (42)

António Sena, Lèvres errentes sur la mer, 1983 (Gulbenkian)

De súbito as ondas

saltam da boca do mar.

Fome e tempestade.

Pintura e haikus (41)

António Areal, sem título, 1961 (Gulbenkian)

Restos de memórias

flutuam num mar vermelho.

Mundos esquecidos.

Pintura e haikus (40)

Francisco Tropa, sem título, 2014 (Gulbenkian)

 Um mundo de sombras

percute a terra e a cinza.

Cântico da tarde.

Pintura e haikus (39)

Fernando Calhau, sem título #80, 2000 (Gulbenkian)

Tinta sobre tinta,

desespero de cinzentos,

entre branco e preto.

Pintura e haikus (38)

Tomás Mateus, Pintura, 1966 (Gulbenkian)

Dividir o espaço,

imaginar as cidades,

cerzir luz e cor.

Pintura e haikus (37)

Albert Rafols Casamada, Del azul, 1997

 Manchas de brancura

em superfície azul.

Nuvens no oceano.

Pintura e haikus (36)

Gino Severini, Danseuses, 1912-13

A súbita música,

em ondulante esquadria,

gera corpo e dança.

Pintura e haikus (35)

Bodil Obberg Pettersson, Early Autumn, 1980 (aqui)

As cores de Outono
deslizam na tela fria.
São sombras sonâmbulas.

Pintura e haikus (34)

Meyer Schapiro, Abstract Landscape, 1971

 A canção da terra

da Primavera ao Inverno.

Quatro estações.

Pintura e haikus (33)

António Areal, sem título, 1961 (aqui)

Paisagens incertas

polvilhadas de espectros.

Vozes sem palavras.

Pintura e haikus (32)

Chaim Soutine, House in the Country - 1934

As casas de campo

são mistérios doutro tempo.

Erma solidão.

Pintura e haikus (31)

Sam Francis, Around the Blues, 1957-62

Girassóis azuis

erguem-se para o Verão.

Cavalos de fogo.

Pintura e haikus (30)

Zao Wou-Ki, 21-14-59

Tormentos de sombra

em planícies de fria lava.

Um vulcão extinto.

Pintura e haikus (29)

Marc Chagall, Abraham and the Three Angels, 1958-60

Abraão falava

e os anjos em silêncio

silêncios fiavam.

Pintura e haikus (28)

António Sena - Deep, 1975

De azul em azul

o mar no céu se confunde.

 Trémulo horizonte.

Pintura e haikus (27)

Gerhard Richter, Abstraktes Bild, 1995

A matéria líquida

faz-se pedra, faz-se cor,

faz-se ave e voo.

 

Pintura e haikus (26)

Ana Hatherly, Palma de Maiorca, 1958

Umbrosas as cores

tumultuam sobre os campos.

Transe e agonia.

Pintura e haikus (25)

António Areal, sem título, 1962

Mundos de calcário,

terras de sal e carvão.

Sombras na viagem.

Pintura e haikus (24)

Gerhard Richter, Abstraktes Bild, 1955

 Falésias de mármore

debruçam-se sobre o mar.

A luz do calcário.

Pintura e haikus (23)

José de Almada Negreiros, As Banhistas, 1925

Mulheres repousam

à beira da solidão.

Murmúrios de água.