Mostrar mensagens com a etiqueta Sonho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sonho. Mostrar todas as mensagens

domingo, 29 de outubro de 2017

Sonho

Oscar Dominguez - La Rêve, 1946-47

Podemos dizer: o sonho é um fado, um destino que nos transforma em sonhadores. É verdade, mas também se pode dizer: o sonho é um furúnculo. Coçamo-lo, coçamo-lo e ele, então, sangra e deixa escorrer a pestilência que encerra ou a pestilência que nos encerra.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Noites de Verão

Winslow Homer - Summer Night (1890)

Ao pensar-se em noites de Verão, o pensamento, de imediato, é conduzido à ideia de sonho. Certamente, a peça de Shakespeare - Sonhos de uma Noite de Verão - terá, nessa associação, um papel. No entanto, sempre se pode especular que o nome da peça seja já o resultado de uma experiência primordial da humanidade, muito anterior ao dramaturgo inglês, experiência que liga as noites de Verão ao sonho. Essa ligação é feita através do desejo. A combinação da temperatura cálida e da noite torna-se um poderoso estimulante do desejo. O sonho nasce então desse desejo que perdeu as amarras que a luz e o frio sobre ele faziam cair.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Da vida dos sonhos

David Lynch - A Bug Dreams of Heaven (1992)

Há a ilusão que o sonho é o veículo de uma comunicação entre o sonhador e uma qualquer realidade de natureza espiritual que reside num além. A ilusão nasce, em primeiro lugar, da cisão que leva a pensar na existência de um aquém e de um além. Em segundo lugar, da ocultação - embora as diversas escolas psicanalíticas tenham chamado a atenção para o equívoco - de que, no sonho, o espírito comunica consigo mesmo. Sendo como o vento, ele sopra onde quer. Fala do passado e fala do futuro, mas fá-lo sempre porque quer falar do presente, desse puro acontecer aqui e agora e no qual se manifesta toda a eternidade. 

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Sonho e realidade

Max Beckmann - Rêve de París, Colette, Eiffel Tower (1931)

Na história da humanidade o sonho sempre desafiou a argúcia interpretativa dos homens. Antevisão do futuro ou sintoma de conflitos passados, o sonho foi e é motivo para uma recusa do presente. E no entanto ele é uma poderosa manifestação da presença do espírito, de um espírito que se liberta da coacção da lógica formal e dos constrangimentos espácio-temporais. Nessa libertação emerge uma outra realidade, aquela que as estruturas lógicas do entendimento e as formas da sensibilidade ocultam e sonegam na vida quotidiana.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Da vida como sonho

Arnold Böcklin - A vida é um sonho breve (1888)

A definição metafórica da vida como um sonho breve traz nela a ocultação de uma necessidade que se coloca a todos aqueles a quem esse sonho, ainda que breve, foi dado. Trata-se da necessidade de despertar. Por breve que seja o tempo do sonho, o sonhador recebe também a injunção de despertar do sonho, de abandonar o sono e de chegar ao estado de vigília. A vida espiritual do homem, nas suas múltiplas facetas, não é outra coisa senão esse processo de despertar e de transitar do sono para a vigília. No despertar do espírito, o homem morre, mas morre apenas para aquilo que é um sonho, uma ilusão, ainda por cima breve.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O sonho

 Franz Marc - O sonho (1912)

O sonho, o que fazer com ele? Para além de visão profética do futuro a acontecer ou de forças pulsionais inconscientes que, motivadas por um passado traumático, se revelam, o sonho é uma pura presença que vale por si mesma e não tanto como uma manifestação de um passado realizado ou de um futuro a acontecer. Como um quadro, um poema ou uma sonata, o sonho dá-se a fruir como um objecto estético frágil e efémero, uma combinação momentânea do espírito, que, inquieto, logo sopra noutra direcção. Exige não uma terapia ou uma acção preventiva, mas a mais pura das contemplações.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O sonho como ensaio

JCM - Colour dreams (2014)

Os sonhos sempre causaram perplexidade aos homens. Viram neles uma antevisão do futuro (a natureza profética dos sonhos) ou o sintoma de um trauma do passado (a psicanálise freudiana). Esta relação do sonho com a temporalidade acaba por esconder uma outra não menos importante, a relação com o espaço físico. O sonho é a experiência onde os homens ensaiam uma suspensão das leis da natureza, vivendo através deles aquilo que não é permitido pelas leis físicas que governam os corpos. A pergunta que nos deveria ocorrer seria não sobre o que irá acontecer no futuro ou sobre aquilo que aconteceu no passado e está oculto no inconsciente. A pergunta decisiva sobre o sonho deverá ser antes esta: por que razão temos necessidade de ensaiar oniricamente uma vida fora dos constrangimentos impostos pelas leis da natureza?

segunda-feira, 14 de julho de 2014

A via do sonho

W. Eugene Smith - Street of Dreams. Pittsburgh, Pennsylvania (1955)

Pensa-se muitas vezes a vida do espírito como destituída de ligação ao real. Não seria mais do que um longo devaneio pela rua dos sonhos, um exercício onírico de fuga ao trágico da existência ou uma incapacidade de afirmação da vontade de poder. A verdade, porém, é que a vida do espírito nasce da atenção ao trágico da existência e do abandono de todos os sonhos que a  vontade de poder faz nascer no homem. O caminho espiritual nasce onde o delírio onírico acaba.