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quarta-feira, 29 de março de 2017

No reino da imobilidade

Teresa Muñiz - Aunque se mueva es pura apariencia (1998)

Uma antiquíssima tradição filosófica ligou o movimento e a aparência. O real seria o imóvel, cabendo a mobilidade ao reino das aparências. A arte - desde a pintura à fotografia, passando pela escultura - não se cansou de manifestar contra-exemplos. Também as aparências são imóveis. Se o real e o aparente são imóveis, o que será o movimento? O cinema veio dar-nos, através do fotograma e da sua montagem, uma imaginativa resposta para o enigma do movimento. Ele não passa de uma sequência de imobilidades.

domingo, 7 de setembro de 2014

Um sinal de eternidade

JCM - Still-life (2014)

No conceito de still-life (natureza morta) é essencial pensar não o modo estético de composição de um certo objecto artístico mas aquilo que se revela através de uma natureza morta, a suspensão do movimento e a abolição da temporalidade. Uma natureza morta está longe, então, de ser uma manifestação daquilo que está morto, do inanimado. É antes um sinal do que está para lá do tempo e, por isso, não se deixa captar pela armadilha física da cinemática. Uma natureza morta, ao fixar definitivamente uma hora, dirige o seu dedo indicador para a eternidade.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Da imobilidade na natureza

Karl Schmidt-Rottluff - Natureza-morta no espaço (1950)

A representação imóvel de frutas, flores, utensílios quotidianos, etc. tomou, na História da Pintura, a designação de natureza-morta. O que encontramos, porém, nas representações pictóricas de naturezas-mortas é a suspensão do movimento, a imobilidade, o repouso. O que pode ser inquietante para o espírito é, porém, a suspeita de que esta imobilidade não seja a da morte mas a expressão máxima da vida. Na suspensão do movimento, na mais pura quietude, as coisas dão-se no seu ser. São como os corpos de dois amantes. A verdade do seu amor não reside na dinâmica do jogo sexual mas na imobilidade que os convoca a tal dinâmica, no repouso em que se fundem e se subtraem ao movimento e ao tempo. Na imobilidade das coisas e dos seres encontramos um reflexo da eternidade.

domingo, 9 de setembro de 2012

A surdez do homem que corre

Kazimir Malevich - Runing Man (1932-1934)

A essência da modernidade, o seu traço substantivo e verdadeira natureza, é a velocidade. O homem corre cada vez mais e cada vez mais depressa. Qual a finalidade dessa corrida? O atletismo com as suas corridas de velocidade e de fundo é uma boa metáfora. O objectivo é correr cada vez mais depressa, ultrapassar-se no acto de correr. Essa é a sua finalidade essencial. O desenvolvimento da modernidade significa que o homem deixou de ter qualquer finalidade exterior a si mesmo para a velocidade que imprime à sua actividade. Significa, também, que reduziu todas as suas finalidades internas a executar cada vez mais depressa as tarefas que se impõe. Bater o record anterior. O homem que corre cada vez mais depressa é aquele que deixou de ser capaz de escutar o sopro do espírito. O espírito - que sopra onde quer - é demorado e lento, apela à suspensão do movimento, ao exercício da atenção, a essa imobilidade suprema que, suspendendo o mover-se, permite que o mundo se mova ao seu ritmo natural. O homem que corre cada vez mais depressa tornou-se surdo.