domingo, 12 de agosto de 2012

Poemas do Viandante (325)

325. AS PORTAS QUE SE ABREM E FECHAM

As portas que se abrem e fecham,
a colina rasgada pelos últimos fogos,
a paisagem esquiva na janela do quarto.
Ficaria semanas a enumerar sensações,
a desmembrar imagens que me chegam,
como se uma verdade fosse possível
ou um novo deus se revelasse.

Desço as escadas em direcção à rua
e esqueço o exercício de separar estações.
Espero apenas que venha o inverno
e o tempo de exílio,
a feliz ventura da pátria sonegada.

Aqueles que desejam a graça
sentam-se ao meu lado no chão húmido,
olham os céus e perscrutam as nuvens.
O silêncio cresce no ventre do verão,
um silêncio abrasador na quietude da tarde,
império de sombra no coração da luz.

Os que esperam o êxtase retiram-se,
partem para a reclusão da floresta,
para o sigilo que em si a natureza esconde.
Fico preso no cristal da solidão,
na expectativa de que chegues ao arrefecer
e tragas na brancura das mãos
as horas maduras do meu breve amor.

2 comentários:

  1. Por vezes ao ler Homo Viator relembro-me de Holderlin, que não leio há anos.Passa por aqui o seu espírito--poético. Terei de voltar a ler. Talvez Homo Viator tenha sido uma centelha das almas de Holderlin, numa outra vida...ah, mas isso é para quem acredita na teoria da metempsicose...o que, para mim, não é descabido de todo. Obrigada pela Beleza.

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  2. Bem, não sou dado a metempsicoses, mas acredito na filiação e na tradição. Eu é que agradeço o comentário.

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