segunda-feira, 30 de julho de 2012

Poemas do Viandante (314)

314. A FACE COM QUE O DIA SE ABRE

a face com que o dia se abre
tem ainda vestígios da noite
uma camisa de dormir de seda pura
e um véu tecido de névoa
sobre cada esquina da rua

vem amarrotada a luz da aurora
e os regatos que correm sem fortuna
entregam-se à trágica claridade
que pelas casas se abate
deusa cruel sem rosto ou destino

e tudo cabe na abóbada celeste
o rio e as suas margens
o outono a entregar-se na névoa fria
e o ramo de violetas esquecidas
no túmulo do soldado desconhecido

pego na dor que me consome
aguardo a decifração do enigma
e vejo o dia clarear
sob a injunção de um deus
que na terra tem o vasto império 

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