João Queiroz - Sem título (?)
292. INCLINO O OLHAR PARA A MONTANHA
inclino o
olhar para a montanha
e aspiro o
ar frio da tarde
faço das
pedras gruta
e arvoro a
casa
onde te aguardo
ao anoitecer
não pertenço
a este tempo
e os lugares
que me foram dados
esqueço-os
mal chega o outono
sento-me e
enumero as espécies
amieiros
bétulas e sobreiros
o carvalho e
o choupo
cerejeiras e
freixos
adormeço entre
folhas e ramos
e um sonho
vagaroso arde
no desvão da
memória
aproximo-me da
infância
desço ao
poço fundo
e encontro
na água fria
a luz
trémula do teu olhar
estou nu e
escondo-me no jardim
a tua
presença frondosa
espero-a na
sombra
desejo-a na
hora
em que
cansada se vá
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