Mikhail Aleksandrovitch Vrubel - A Primavera (1897)
Não sei se alguma Primavera me surpreendeu tanto quanto a deste quadro de Vrubel. No lugar da alegria triunfante sobre a noite invernosa, encontramos a pura contenção. No lugar da exteriorização, vemos a discreta interioridade. No lugar das cores vivas, são os tons melancólicos que dominam. Talvez toda a sabedoria se resuma em apreender em cada coisa o seu contrário e perceber a realidade como um todo indivisível. Na alegria primaveril é preciso intuir, de imediato, a melancolia do outono, e saber que nesta está já toda a esperança de uma nova primavera, como se para o espírito as várias figurações do tempo não passassem de um jogo em que o mesmo, aquilo que permanece idêntico, se entrega ao puro prazer da transfiguração.