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terça-feira, 11 de junho de 2013

O viajante invisível

Vieira da Silva - O passeante invisível (1951)

Um rasto de luz, apenas. A tradição moderna, que tem em Descartes e na sua angustiante busca da certeza um primeiro marco, é a mais avessa das tradições à aventura do espírito. Nela, o espírito reduziu-se à subjectividade, e tudo gira em torno do sujeito, seja a glória e a honra, seja a humilhação e a patologia. Mas todas essas figuras da vitória e da derrota do sujeito são apenas a compensação de um sentimento de desconfiança perante a possibilidade da fé no sujeito ser falsa. A aventura espiritual é, antes de mais, uma luta contra a ilusão da subjectividade. Aquele que se põe a caminho dirige-se para a hora em que se torna no viajante invisível. Ao passar, não deixa pegada nem sombra de corpo, apenas um rasto de luz.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dessubjectivação

Um dia de calor. Tudo se torna mais difícil. Aquilo que se exige é agora, mais que em outros dias, um campo de negação de si mesmo, um território de oblação e sacrifício. Cumprir cada uma das tarefas, não esperando nada delas, mas oferecendo-as como aprendizagem do esquecimento de si. Uso a palavra dessubjectivação. Este cumprir do dever como uma entrega e negação da vontade própria é uma forma de dessubjectivação, um rasgar da máscara, um passo para além da ilusão da nossa substancialidade. A dessubjectivação não é obrigatoriamente, como muitas vezes acontece, uma alienação, um estranhamento. Pode ser um passo para a clareira onde O que não vemos se manifesta. No sacrifício das tarefas quotidianas encontramos um caminho, um difícil caminho para quem sente o apelo da quietude. Mas há que cumprir essa Vontade que não é a nossa.