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domingo, 19 de março de 2017

Enigmas e mistérios

Ángel Mateo Charris - El buscador de enigmas (1999)

Confrontar-se com enigmas ainda é confiar na razão como caminho para os decifrar. O enigma não exige nada mais que um raciocínio apurado e treinado, um raciocínio que será tanto mais eficaz quanto maior for a informação de que dispuser. Para além do enigma, porém, está o mistério. Perante este, a razão soçobra, a informação torna-se obstáculo. Os mistérios, na sua efectiva natureza, não se dirigem à decifração. Qualquer técnica hermenêutica esbarra no sem sentido que os constitui. Pode, paradoxalmente, o homem, impossibilitado de o conhecer, viver nele e ser transformado nele e por ele. O enigma dirige-se à razão. O mistério, à existência.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Da leitura

Fernand Léger - A leitura (1924)

O ensino da leitura, por necessidade de eficiência, acaba por matar aquilo que é essencial no acto de ler. Ler é, antes de mais, um acto de decifração, a revelação do que está escrito. A eficiência adquirida no acto de ler naturaliza a leitura (a partir de certo grau performativo, ler parece uma coisa natural) e rouba-lha o sentido de penetração num mistério cifrado. Este não é o único problema. Decorrente dele, está a oclusão da leitura em si mesma, como se ela apenas servisse para a transmissão de uma mensagem ou a fruição de um prazer estético, na leitura literária. A leitura como decifração deve ser, contudo, um modelo ou arquétipo que se deve transferir para toda a realidade, a exterior e a interior. Tomar tudo como signo e cifra implica então que sejamos, de forma consciente, leitores contínuos do mistério do mundo e do enigma que cada um é para si mesmo.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Levado pelo vento

Darío de Regoyos y Valdés - Una calle de Córdoba

Uma rua que de súbito se fecha e se torna em mistério. São assim os caminhos do viandante, ir por ruas que se fecham num enigma. Penetrar no mistério que se abre como uma avenida. Assim caminha, de mistério em mistério, de rua em rua, levado pelo vento que sopra onde quer.

domingo, 21 de setembro de 2014

Revelação de si

Esteban Vicente - Descubrimiento (1992)

A viagem do viandante é sempre uma aventura de descobrimento. Descobrir aquilo que está em si oculto, como se fosse uma cifra ou um enigma. Na viagem, o que se revela é uma paisagem interior. O viandante, no caminho que toma, revela-se a si mesmo e revela aquilo que o envia.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Enigma

Gustave Doré - O Enigma (1871)

A autêntica viagem não começa quando, como aconteceu com Édipo, se descobre o enigma proposto pela esfinge. Um enigma que se deixa decifrar não é um enigma, mas uma armadilha do destino. Para Édipo, a verdadeira viagem começou no momento trágico em que, ao saber que casara com a própria mãe, se cegou. A partir daí, não haveria mais enigmas decifrados, mas uma viagem de enigma em enigma, uma viagem em cada enigma se tornava cada vez mais enigmático. Assim, Édipo se tornou um viandante.