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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

A Sarça Ardente - 100

Edvard Munch, Alameda con copos de nieve, 1906
Sobre a alameda
da memória
arde um fogo
feito de silêncio,
a sarça trazida
do deserto
para incendiar
as águas do rio,
as pedras da montanha,
o coração preso
às neves de Inverno.

Fevereiro de 2022

 

sábado, 29 de janeiro de 2022

A Sarça Ardente - 99

Thomas Cole, Expulsión. Luna y luz de fuego, 1828
O fogo é um símbolo.
Arde por dentro
do dia,
deixa um rasto
de cinza
na porta do silêncio,
abre-se
como uma fresta
no pavor da noite.

Janeiro de 2022

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Haikai do Viandante (422)

Ivonne Sánchez Barea, Cienaga azul II, 1999

 Um pântano azul
cresce nos dedos da noite.
Céu de águas paradas.

domingo, 16 de janeiro de 2022

A Sarça Ardente - 98

António Carneiro, Porto Manso, o Rio Douro em Ancede, 1927
Decomponho o dia
em seus frutos,
no que me chega
à mesa
e eleva a voz
em acção de graças.

Decomponho a noite
na promessa,
o ardente anúncio
da aurora
abrindo-me a mão
para o fruto de cada dia.

Janeiro de 2022

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

A Sarça Ardente - 97

Caspar David Friedrich, Winter Landscape with Church, 1811
O fumo do Inverno
desce
sobre o jardim.

Os cedros reverberam
na memória
dos dias luminosos
da infância.

Tudo se suspende
na viagem
entre a invernia
que me traz
da casa do passado
ao porto do presente.

Janeiro de 2022 

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Haikai do Viandante (421)

Kazimir Malevich, Apples Trees in Blossom, 1904
 Sob o azul dos céus
as macieiras florescem.
Luz da Primavera.

sábado, 25 de dezembro de 2021

A Sarça Ardente - 96

Gerardo Rueda, Composición, 1959
Sobre a sombra
ergue-se
um dia de luz,
a longa espera
terminada,
o sussurrar do oceano
na memória,
o arder do silêncio
ao abrir-se
no arquipélago
do coração.

Dezembro de 2021 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Haikai do Viandante (420)

Hiroshi Hamaya, Winter starts on peak of Mount Fuji. Japan, 1962
 Branca, pura, a neve
sobre o cume da montanha.
Incêndio de água.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

A Sarça Ardente - 95

Esteban Vicente, Matices del rojo, 1986
O sopro suave do vento
empurra para longe
a sombra
povoada pelas camélias
do meio-dia.

O Sol sorri sobre a cal
do casario.
Sentada sob a tristeza,
uma mulher
sorri no fulgor do silêncio.

Dezembro de 2021

domingo, 5 de dezembro de 2021

Haikai do Viandante (419)

Vincent Van Gogh, El puente de Trinquetaille, 1888
 Pontes sobre os rios
de súbito unem as margens.
Fogo e fantasia.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A Sarça Ardente - 94

Charles Émile Jacque, Shepard with Flock
Pequenos pastores de barro
apascentam rebanhos
sobre o musgo
verde do presépio.

Esperam a noite que trará
luz à luz do dia,
música
ao súbito silêncio dos anjos.

Dezembro de 2021

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A Sarça Ardente - 93

Saul Steinberg, November, 1965
Os dias de Novembro
deslizam, mudos,
pela sombra
das acácias,
pelas folhas secas
das tílias,
pelos fios que vão
dos meus olhos
à luz do teu coração.

Novembro de 2021

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Haikai do Viandante (418)

Toni Schneiders, Gräser im Fluss, 1974
 
Ervas sobre o rio
cobrem o fluxo das águas.
Sonhos e miragens.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

A Sarça Ardente - 92

Edgar Degas, Casas junto al mar, 1869
Uma manhã limpa
a lembrar
os dias de Inverno,
se o Sol afasta
as nuvens
para cintilar
sobre o silêncio
e o canto nupcial
adormecido
nas teias de tule,
no lar da memória.

Novembro de 2021

domingo, 31 de outubro de 2021

A Sarça Ardente - 91

Salvador Dali, Rosa meditativa, 1958
Deixar vir a dádiva
com o seu cortejo
de graças,
a face marcada
pela rosa,
a que se abre
para a luz
no limbo do dia.

Outubro de 2021

domingo, 26 de setembro de 2021

A Sarça Ardente - 90

Wassily Kandinsky, Autumn in Bavaria, 1908
Sobre as sombras reina
um império de luz,
o revérbero da madrugada,
a corola de oiro
do teu nome.

As folhas caem para dentro
do Outono,
incendiadas pelo bronze
da penumbra,
perdidas na cintilação da luz.

Setembro de 2021

sábado, 28 de agosto de 2021

Haikai do Viandante (415)

Hiroshi Sugitomo: Aegean Sea, Pillon, 1990

 Sombras de silêncio
na névoa do horizonte.
O céu desce ao mar.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

A Sarça Ardente - 89

Gustav Klimt, Schubert at the Piano, 1899
Ouve-se o desfilar das notas
trazidas pela leveza
com que os dedos
acariciam as teclas.

Um raio de sol trespassa
o vidro, fende
a penumbra
e abre o dia ao silvo da luz.

Uma música cintilante cresce
por dentro do silêncio
e floresce
nas pétalas de uma rosa.

Agosto de 2021

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

A Sarça Ardente - 88

Fernando de Azevedo, sem título, 1961
Entrar por dentro do silêncio
dele fazer casa, abrigo,
o fogo que arde
na manhã,
a luz na fímbria do corpo.

São silenciosas as palavras
dos deuses, vêm e vão,
procuram a morada
onde alguém
se possa acolher.

Agosto de 2021

domingo, 25 de julho de 2021

A Sarça Ardente - 87

Egon Schiele, Arboles otoñales, 1911
Os dias invisíveis em que o sol
iluminava o silêncio
ou do céu caía
uma chuva para sossegar
a inquietação do olhar.

Esperava-te, ó voz inaudível,
para que no teu eco
escutasse o restolho
da verdade
ou a promessa da redenção.

Julho de 2021