Chaim Soutine - Landscape with Ascending Road (1918)
Seguia o caminho que devia seguir, com um passo indolente e irregular, assobiando e olhando ao longe, a cabeça inclinada para o lado, e se se enganava no caminho, é porque para certos seres não existe verdadeiro caminho.
Quando se lhe perguntava o que ele pensava vir a ser, dava respostas variáveis, pois tinha o hábito de dizer (já o tinha notado) que trazia nele as possibilidades de uma quantidade de existências, juntas à consciência secreta que elas eram, no fundo, puras impossibilidades. (Thomas Mann, Tonio Kröger)
Se a natureza quer perder alguém, nada melhor do que dotá-lo de múltiplas capacidades e fazer suspeitar nesse alguém inúmeras vidas possíveis. Atraído pela exuberância dos dotes, experimenta mil caminhos. Todos são os seus caminhos, mas na verdade nenhum é o caminho. A vida torna-se pura perda, incapacidade de escolha, ausência de fim, um tormento silencioso e cumulado de derrotas. Quantas vezes essa pessoa deseja, no fundo de si mesma, um horizonte tranquilo, apenas rasgado pelo caminho ascendente que o levará à meta, à única meta que lhe diz respeito. Mas a ele não lhe cabe esse destino, pois é um viandante sem caminho. Melhor, é um viandante perdido no seu próprio labirinto.