de que me
valem os sentidos
se o que por
eles vem está tocado de sombra
e deixa na
boca um rasto amargo
como se tudo
estivesse para acabar
e apenas
restasse um sopro de escuridão
vindo pela
fresta rasgada na parede
promessa adiada
ou um sonho transfigurado
recolho-me
no pensamento que me toca
e oiço o
ribombar das águas no paredão
o mar vem
solto fustigar o silêncio
e o mundo é uma
luz dentro de mim
o seu brilho
dói-me nas mãos
e se pergunto
pelas horas
não há quem
me dirija a palavra
há dias em
que construo uma botânica
pequenas colecções
de folhas
o
irreprimível vício das taxionomias
se chegas ao
abrigo de uma sentença
o meu
coração debruça-se sobre a mentira
e conta uma
a uma as pétalas de luz
que fulgem
no incêndio desse olhar
retomo as
informações que pelos sentidos
do mundo sob
a máscara da verdade coligi
construo uma
física precária
e com ela
vou terra fora
sem bússola
ou mapa que me guie
o sol ao
pôr-se diz-me as trevas
e o coração anoitece
dentro de mim
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