Francis Bacon - Three Studies for Self-Portrait (1974)
As estratégias de representação do self (si-mesmo), tanto do próprio como de outros, usadas por Francis Bacon têm o especial condão de tornar evidente o que há de distorcido na representação de si. Contentamo-nos com uma visão apolínea de nós mesmos e dos outros, uma visão que nos tranquiliza e nos mergulha numa doce ilusão, uma ilusão, por feios que sejamos, que é sempre um exercício de narcisismo. Mas, sob essa capa, esconde-se o tenebroso, o fundo obscuro de uma natureza a que nos tornámos estranhos.
As religiões foram sempre dispositivos tecnológicos para enfrentar esse tenebroso, para o apaziguar e domesticar. A pintura de Bacon inscreve-se num tempo em que a religião perdeu essa força primordial. Ela mostra uma dupla distorção na representação do self. Por um lado, denuncia a representação natural como uma ilusão, como uma distorção da nossa verdade. Por outro, mostra o que de distorcido se esconde em nós. Deixa ainda lugar para a suspeita de que o interesse em si mesmo é a fonte de todas as distorções. Estes quadros de Bacon podem ser lidos como uma preparação espiritual ao abandono de si mesmo.
Perfeito. E é a erosão do tempo sobre o nosso exterior, ou é a decomposição que começa ainda em vida, ou o desalento que faz perder a massa muscular. Tudo isso junto.
ResponderEliminarOu a terrível força da natureza que o contono da pele não consegue suster.
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