quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Poemas do Viandante (343)

343. DE QUANTAS PALAVRAS PRECISAMOS PARA DIZER

De quantas palavras precisamos para dizer
tudo o que o silêncio nos pede?
De quantas horas será feito o caminho
por onde voltamos ao chegar a noite?
Vivemos ainda num tempo de turistas,
artesãos inspirados no puro caminhar,
amantes insaciáveis da cegueira
com que tocam tudo o que o comércio traz.

O peregrino tem a sua casa no caminho
e em cada instante a renova,
criando um silêncio no coração dos campos
e a breve eternidade no fluir das horas.
Esta, porém, não é a sua estação.
Fecharam o templo e o santuário oferecido
mostra uma mácula de bolor e ruína,
no lugar onde floresciam as buganvílias.

Quando erguemos os pés pela estrada,
não sabemos quem somos ou o que esperar.
Um sonho cresce no bosque de cedros
e alimenta o devaneio que escorre da vida.
Interrogamos o voo dos milhafres
ou o uivo longínquo dos lobos matinais,
mas apenas escutamos o silêncio do sino,
o regresso da noite na luz que se esvai.

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