domingo, 26 de agosto de 2012

Poemas do Viandante (339)

339. O CORPO, PEQUENO MÓBIL SOBRE O CARREIRO

O corpo, pequeno móbil sobre o carreiro
do jardim, herança confusa de múltiplas origens,
arquitectura genética vinda da noite,
essa noite que espia e espera
para te embalar nos destroços da eternidade.

Sobre ele o imperativo do prazer faz lei,
inscreve nas células o súbito desejo de água,
o rumor de outro corpo,
uma geografia de ânsias e desejos
a arder na incandescência do tacto.

Sonho-te, pobre corpo, desprovido de gravidade,
liberto de leis, cântico silvestre
no calendário vazio, pássaro de seda ou
balão de hélio nos precários dedos
de uma mão egoísta e desmemoriada.

Quando agora chega setembro, pesas-me
e a graciosa leveza outrora sonhada
é um traço de silvas, o espinho que ulcera
as pétalas cansadas da rosa
que, sem porquê, de aberta se faz fechada.

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