A dor é um
orifício na tarde perfurada,
o prato da
balança em que a vida se pesa,
sinal enfurecido
de um corpo consigo
desavindo.
Fecho os olhos ao sofrimento
e espero o
duro combate que a vida impõe,
a arena
vazia de onde o animal se retirou.
A dor é
apenas a véspera da consciência,
a flor de
sombra que anuncia a luz
e prepara o
mundo para um destino de cristal,
pequena
transparência nos filamentos rochosos,
o velho álbum
de fotografias, passado ridículo
de um futuro
de areia em terra de aluvião.
Cheiro no
tempo a dor que vem
e não é dor
de parto. As furtivas auroras
cansaram-se
e, sem razão, esconderam-se
na fronteira
que une o dia e a noite,
abolindo as
longas horas de negociação,
todos os
crepúsculos que no poema havia.
Olho a mão
cruel que me estendes
e todo o
corpo treme na dádiva esperada.
Aguardo o
inverno e os dias agrestes,
a casa
batida pela fúria do vento.
Todas as
coisas inúteis que um dia amei
são rasto de
dor, do breve prazer irradiou.
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