terça-feira, 14 de agosto de 2012

Poemas do Viandante (327)

327. O MAR ENCAPELADO PELO VENTO DE SUDOESTE

O mar encapelado pelo vento de sudoeste,
exércitos de gaivotas por terra,
as pegadas na areia húmida
e um céu de tempestade sobre os ombros.
De quantas coisas terei de me esquecer
para que a verdade brilhe
e a vida nos esmague com o peso da morte?

Estás sentado e o telefone toca
e não sabes o que vem naquele toque,
o que te dirá a voz que escutas.
Ouves e sentes o cheiro dos crisântemos,
os sinos a dobrarem na lonjura da aldeia.
A morte convoca-te para o seu triunfo
e o sentido que tudo tinha torna-se irrisão,
um campo de cinzas e cactos em terra seca.

Sento-me perante as ondas
e sobre mim cai uma chuva fina,
água vinda de um céu incompreensível.
Tão estranho desígnio o de não haver
desígnios, apenas as ondas que vão e vêm,
as gaivotas por terra e uma tempestade de areia.
Ao longe, as sirenes uivam na noite
e o coração cala-se sob a sentença dos céus.

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