quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Poemas do Viandante (328)

328. AS HORAS BRANCAS DO SOFRIMENTO CHEGAM

As horas brancas do sofrimento chegam,
névoa azul sobre o mar, um barco arpoado,
cântico da carne na desolação do dia.
Dissipada esperança cai pela floresta,
terra antiga, pobre condado da infância.
Quantas vezes peguei na tua mão,
como se esperasse uma carta,
o segredo de um nome ou a sílaba
onde se escondia o ventre desse amor.

A vida esmorece, torna-se inabitável,
um castelo em ruínas na vila abandonada.
Os frutos, se os havia, eram ácidos,
sobre o açúcar traziam o tom do limão,
e logo amadureciam na secura da tarde.
Vislumbro hoje esses dias de glória,
a casa aberta para o pequeno jardim,
as tuas mãos a trabalhar a terra,
as roseiras enxertadas no final do dia.

Um animal selvagem habitava a casa,
crescia na noite e adormecia na aurora.
Quando a porta se abria, apenas uma sombra,
o sussurro do mundo a cantar vagaroso,
a voz que amei no prelúdio da tarde.
Batem as horas no relógio de parede
e o coração estremece na distância.
Os dias estão ficar mais curtos, disseste,
e os meus olhos declinaram com o sol.

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