O que
procuras dentro das palavras?
Uma nuvem, o
solstício de inverno,
o segredo da
árvore perdida
na floresta?
O que
procuras em cada verso
que te
escapa dos dedos
e inflama o
coração
com a palha dos
campos?
O mar de
agosto enche-se de azul
e ao florir
nas areias
deixa um
rasto de espuma,
a breve
ilusão de uma quimera.
Sentas-te
nas rochas húmidas
e pensas no íntimo
de cada palavra,
o silêncio que
se desprende
na
rebentação do poema.
Ora aqui está um poema que até parece que fala com a minha voz. Tem tudo: o silêncio, a poesia, o grande mar, a água que deixa as rochas molhadas, as árvores, os bosques, o campo, a luz, os sonhos, os segredos, a procura, o coração, a intimidade das palavras. Tudo.
ResponderEliminarPor vezes, ao ler os seus belos poemas, perguntava-me se alguma vez lhe leria um poema assim, tinha até vontade de lhe fazer essa pergunta. Mas via-o tão envolto em trevas que pensei que poderia parecer-lhe de mau gosto eu chegar ao pé de si e pergunta-lhe pela luz, pela espuma, pela rebentação, por rochas a cheirar a limos verdes e aveludados, escorrendo água - ou coisas assim.
Gostei, gostei muito.
Vou ler mais uma vez a ver se descubro o que procuro, também eu, no interior das palavras.
Obrigado, UJM. Em última análise eu creio na luz e não nas trevas. O meu pessimismo refere-se aquilo que os homens fazem e não ao que são, no que há de mais secreto neles. O que me parece, por outro lado, é que não nos devemos deixar cair na facilidade de uma luz artificial, não devemos confundir a luz do sol com o néon. E, em poesia, facilmente se cai no néon pensando-se estar a falar da luz solar. Muito obrigado por ir lendo os meus textos.
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