quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Poemas do Viandante (335)

335. O QUE PROCURAS DENTRO DAS PALAVRAS?

O que procuras dentro das palavras?
Uma nuvem, o solstício de inverno,
o segredo da árvore perdida
na floresta?

O que procuras em cada verso
que te escapa dos dedos
e inflama o coração
com a palha dos campos?

O mar de agosto enche-se de azul
e ao florir nas areias
deixa um rasto de espuma,
a breve ilusão de uma quimera.

Sentas-te nas rochas húmidas
e pensas no íntimo de cada palavra,
o silêncio que se desprende
na rebentação do poema.

2 comentários:

  1. Ora aqui está um poema que até parece que fala com a minha voz. Tem tudo: o silêncio, a poesia, o grande mar, a água que deixa as rochas molhadas, as árvores, os bosques, o campo, a luz, os sonhos, os segredos, a procura, o coração, a intimidade das palavras. Tudo.

    Por vezes, ao ler os seus belos poemas, perguntava-me se alguma vez lhe leria um poema assim, tinha até vontade de lhe fazer essa pergunta. Mas via-o tão envolto em trevas que pensei que poderia parecer-lhe de mau gosto eu chegar ao pé de si e pergunta-lhe pela luz, pela espuma, pela rebentação, por rochas a cheirar a limos verdes e aveludados, escorrendo água - ou coisas assim.

    Gostei, gostei muito.

    Vou ler mais uma vez a ver se descubro o que procuro, também eu, no interior das palavras.

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  2. Obrigado, UJM. Em última análise eu creio na luz e não nas trevas. O meu pessimismo refere-se aquilo que os homens fazem e não ao que são, no que há de mais secreto neles. O que me parece, por outro lado, é que não nos devemos deixar cair na facilidade de uma luz artificial, não devemos confundir a luz do sol com o néon. E, em poesia, facilmente se cai no néon pensando-se estar a falar da luz solar. Muito obrigado por ir lendo os meus textos.

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