segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Poemas do Viandante (326)

326. UM VEADO AZUL, ESCREVEU GEORG TRAKL

Um veado azul, escreveu Georg Trakl,
sangra baixinho no mato de espinhos,
mas aqui, na frondosa noite, não há sangue,
nem os veados vestem de azul,
apenas os espinhos crescem sem alvo,
ameaça difusa iluminada pela lanterna do medo,
o teu grito silenciado na colina.

Pego na urze e arrasto-a para o fogo,
oiço na secura crepitar a alma do mundo,
as faúlhas soltam-se e inclinam-se
para o mato, ameaçam Sodoma e Gomorra,
riscam um mapa de desolação sobre a mesa,
onde te sentas e me escutas.
Sempre és um príncipe? Perguntas,
e no meu silêncio vês consentimento,
a alegria breve de um encontro sem feridas.

Antigamente, chegado o verão,
tomava banho no grande tanque de rega,
a água fria, o corpo despido no zumbir da tarde,
e o solitário silêncio interrompido
por uma ave, o restolhar do vento na folhagem,
a recordação de algum amor sem futuro.
Cansam-me estas pendências da memória,
as promessas que fiz e nunca cumpri,
o rugir das varejeiras no campo.
Cansa-me o desejo de ser um veado azul
ou o pobre príncipe que nunca deixou de sangrar.

2 comentários:

  1. Bom, se fosse um veado azul ainda o convidava a passear no meu jardim que esta noite se vestiu com as cores de água e onde cresceram flores enormes e muito belas. Se fosse um veado azul também o poderia convidar a nadar no tanque onde esta noite apareceu uma mulher de cabelos amarelos e olhar sonhador.

    Mas, não sendo, já não sei que lhe diga.

    Fico-me, apenas, com um simples, 'bom dia'!

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  2. Então, bom-dia, neste caso boa-tarde. Talvez possa ser um sapo, na melhor das hipóteses.

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