Um veado azul, escreveu Georg Trakl,
sangra baixinho no mato de espinhos,
mas aqui, na
frondosa noite, não há sangue,
nem os
veados vestem de azul,
apenas os
espinhos crescem sem alvo,
ameaça
difusa iluminada pela lanterna do medo,
o teu grito
silenciado na colina.
Pego na urze
e arrasto-a para o fogo,
oiço na secura crepitar a alma do mundo,
as faúlhas
soltam-se e inclinam-se
para o mato,
ameaçam Sodoma e Gomorra,
riscam um
mapa de desolação sobre a mesa,
onde te
sentas e me escutas.
Sempre és um
príncipe? Perguntas,
e no meu
silêncio vês consentimento,
a alegria
breve de um encontro sem feridas.
Antigamente,
chegado o verão,
tomava banho
no grande tanque de rega,
a água fria,
o corpo despido no zumbir da tarde,
e o
solitário silêncio interrompido
por uma ave,
o restolhar do vento na folhagem,
a recordação
de algum amor sem futuro.
Cansam-me
estas pendências da memória,
as promessas
que fiz e nunca cumpri,
o rugir das
varejeiras no campo.
Cansa-me o desejo
de ser um veado azul
ou o pobre
príncipe que nunca deixou de sangrar.
Bom, se fosse um veado azul ainda o convidava a passear no meu jardim que esta noite se vestiu com as cores de água e onde cresceram flores enormes e muito belas. Se fosse um veado azul também o poderia convidar a nadar no tanque onde esta noite apareceu uma mulher de cabelos amarelos e olhar sonhador.
ResponderEliminarMas, não sendo, já não sei que lhe diga.
Fico-me, apenas, com um simples, 'bom dia'!
Então, bom-dia, neste caso boa-tarde. Talvez possa ser um sapo, na melhor das hipóteses.
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