Não há uma
história viva da miséria.
Os
miseráveis limitam-se à sua fronteira,
a pura
sombra pelo chão,
o cântico
sóbrio com que suportam o destino.
Estão ali,
mas são invisíveis,
sem mãos ou
braços,
a luz não se
demora naqueles corpos,
segue o caminho
luminoso,
sem deixar rasto,
sombra, leve indício.
Não basta a
pobreza pelas ruas
ou a devoção
austera e contida no templo.
O mundo arfa
numa sede de penúria,
de casas
ardidas e cidades cariadas.
A miséria
veio no espírito da terra,
a pura abjecção
da graça em declínio,
o sórdido
desenho do coração dos homens.
Não há uma
história do que não se vê,
nem ciência
daquilo que não se ama,
não há uma pegada
no caminho
ou um eco a
saltar sobre a montanha.
De nada vale
ler livros e tratados,
espantar dos
dias o sagrado ócio,
ir mundo
fora recolher testemunho.
A miséria é
o invisível daquilo que vemos,
sangue que
pulsa na vida sem porquê.
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