sábado, 11 de agosto de 2012

Poemas do Viandante (324)

324. O PERDIDO PODER DE TE RESSUSCITAR

O perdido poder de te ressuscitar,
de trazer à vida o murmúrio dessa voz,
o calor suspenso sobre a casa.
Começado o declínio, nada nos salva,
o barco corre sonâmbulo pelo rio
e a foz, apenas o nada que te aguarda.

Desesperam os que amam a beleza,
essa lúcida inclinação para a loucura,
pois sempre que a respiração se suspende,
ela retoma o ritmo, o hábito lho deu.
Tão frágeis os nossos juízos,
que tomamos por belo aquilo que passa.

Na casa recusamos ver o salitre
e na face, aquela que mais amamos,
esquecemos o ruminar das horas.
Pobres poderes são a nossa herança:
um riso, a flor da camélia, uma noite,
a breve alegria do esquecimento.

6 comentários:

  1. Tenho muita dificuldade em comentar poesia.

    Dá-me, por vezes, é vontade de escrever coisas que me ocorrem quando leio alguns poemas. Este seria um desses poemas. É um poema que poderia inspirar uma pequena sucessão de imagens, uma pintura, uma história.

    É um poema muito belo como, de resto, são sempre todos.

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  2. Muito obrigado. Talvez possa escrever uma história, quem sabe?

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  3. Não escrevi uma história mas uma coisa acerca de árvores, em especial do meu pinheiro preferido - e também acerca do tempo que passa e que deixa marcas (nele e em mim).

    Acrescentei uma referência ao seu poema.

    Um bom domingo!

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  4. Muito obrigado. Irei ver, claro.

    Bom domingo.

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