sábado, 1 de setembro de 2012

Poemas do Viandante (345)

345. DESÇO DO DORSO ASTUTO DO PASSADO

Desço do dorso astuto do passado
e afasto-me da promessa que o futuro anuncia.
Bastam-me esta água sobre a areia branca
e os limos que se enredam nos pés.
Bastam-me os caminhos rudes na montanha
e uma casa branca de porta entreaberta.

Aos outros deixo agora o requiem e a profecia.
Aspiro o ar fresco nascido na madrugada
e olho o céu azul na distância inacessível,
maldade ou capricho dos deuses imortais.
Voo com as nuvens se elas passam
e escuto o canto dos pássaros na primavera.

Ser todo e único em cada momento,
andar de pés descalços no musgo da floresta,
carregar a solidão quando estou só
e o vivo prazer de me perder na tua mão.
Sem passado nem futuro, sou apenas sombra,
um traço de luz, o fogo na noite, uma onda.

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