segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Poemas do Viandante (347)

347. VOLTEI INQUIETO PARA A PÁTRIA DO CALOR

Voltei inquieto para a pátria do calor,
encerro-me no segredo da casa,
e espero a sombra da noite para caminhar
pelas ruas, sulcos infelizes no dorso da cidade.
Quantos serão os dias de sol brilhante
e quantas as noites em que não dormirei?
Estranha contabilidade a que me entrego,
mal chega setembro e o seu império.

Vacilante, por vezes, o vento traz um esboço
de paraíso, a promessa de uma sóbria madrugada,
o desejo de me perder por becos e vielas.
Um sino dobra na funda manhã,
vestígios do passado chegam no barco da memória,
aqueles dias felizes em que de corpo despido
me entregava solene à água fria.

Uma alcateia de sensações desaba em mim,
uiva na floresta vazia de outrora,
traça um mapa de estradas longínquas,
as encruzilhadas onde pela noite te esperei.
Sim, voltei à pátria do calor, aguardo o passar
das horas, a lua que sobre o sol virá.
Estendo-te a mão deserta e em sangue,
e ouço a tua voz tão longe a cantar.

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