domingo, 23 de setembro de 2012

Poemas do Viandante (363)

Max Ernst - At the First Clear Word (1923)

363. AS MINHAS PALAVRAS PERDERAM A ANTIGA CASA

As minhas palavras perderam a antiga casa,
são agora trapos a errar por sendas escarpadas,
caminhos desconhecidos,
sem promessa ou imperativo que as guie,
retire da escuridão e as abra
para a luminosa praça da compreensão.

Pobres e loucas palavras chegadas ao outono,
perdidas no jardim do verão,
a deambular por ruas destroçadas
e praças vazias.
Para elas não há sentido disponível
nem estrela polar, não há fonte
onde matem a sede e a vida retorne.

Por vezes o poema era um sonho de ressurreição,
a esperança do corpo descobrir,
no vão escuro de uma viela,
o espírito antigo, a tensão viva
que iluminava estrelas
e incendiava o sol nocturno do inverno.

Agora sinto em cada palavra dita
a cegueira que chega,
que se eleva para o mundo,
traça uma rota de solidão,
e cai, sílaba a sílaba, sobre os ombros,
inclinando a vida para toca da morte.

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