Max Ernst - At the First Clear Word (1923)
363. AS MINHAS PALAVRAS PERDERAM A ANTIGA CASA
As minhas
palavras perderam a antiga casa,
são agora trapos a errar por sendas escarpadas,
caminhos
desconhecidos,
sem promessa
ou imperativo que as guie,
retire da
escuridão e as abra
para a
luminosa praça da compreensão.
Pobres e loucas
palavras chegadas ao outono,
perdidas no
jardim do verão,
a deambular
por ruas destroçadas
e praças
vazias.
Para elas
não há sentido disponível
nem estrela polar,
não há fonte
onde matem a
sede e a vida retorne.
Por vezes o
poema era um sonho de ressurreição,
a esperança
do corpo descobrir,
no vão
escuro de uma viela,
o espírito
antigo, a tensão viva
que iluminava
estrelas
e incendiava
o sol nocturno do inverno.
Agora sinto em
cada palavra dita
a cegueira
que chega,
que se eleva
para o mundo,
traça uma
rota de solidão,
e cai,
sílaba a sílaba, sobre os ombros,
inclinando a
vida para toca da morte.
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