Marc Chagall - El poeta tendido (1915)
Este quadro de Chagall manifesta a efectiva condição do poeta. O corpo ganha raízes na terra e recebe aquilo que vem do céu, mas o olhar é oblíquo, como se estivesse a meio caminho entre uma e outro. O poeta não é homem puramente terreno nem apenas etéreo. Ele é a linha de fronteira entre o céu e a terra. A fronteira está no seu olhar oblíquo. Não nos esqueçamos, todavia, que a fronteira tem uma dupla função. Por ela separamos e, ao mesmo tempo, unimos dois territórios. O olhar do poeta desenha a fronteira e o próprio poeta é o guarda-fronteiriço. Escrever poesia é, então, desenhar fronteiras que separam e unem territórios e guardar o segredo dessas fronteiras. Mas o poeta é também outra coisa, ele é contrabandista, leva coisas de um lado da fronteira para o outro sem passar pela alfândega. Na verdade, não há ninguém melhor para contrabandear do que o guarda-fronteiriço.
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