domingo, 9 de setembro de 2012

A surdez do homem que corre

Kazimir Malevich - Runing Man (1932-1934)

A essência da modernidade, o seu traço substantivo e verdadeira natureza, é a velocidade. O homem corre cada vez mais e cada vez mais depressa. Qual a finalidade dessa corrida? O atletismo com as suas corridas de velocidade e de fundo é uma boa metáfora. O objectivo é correr cada vez mais depressa, ultrapassar-se no acto de correr. Essa é a sua finalidade essencial. O desenvolvimento da modernidade significa que o homem deixou de ter qualquer finalidade exterior a si mesmo para a velocidade que imprime à sua actividade. Significa, também, que reduziu todas as suas finalidades internas a executar cada vez mais depressa as tarefas que se impõe. Bater o record anterior. O homem que corre cada vez mais depressa é aquele que deixou de ser capaz de escutar o sopro do espírito. O espírito - que sopra onde quer - é demorado e lento, apela à suspensão do movimento, ao exercício da atenção, a essa imobilidade suprema que, suspendendo o mover-se, permite que o mundo se mova ao seu ritmo natural. O homem que corre cada vez mais depressa tornou-se surdo.

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