domingo, 2 de setembro de 2012

Poemas do Viandante (346)

346. DESCUBRO UM REFLEXO DE LUZ NA ÁGUA DO MAR

Descubro um reflexo de luz na água do mar
e os meus olhos ficam suspensos,
presos na ínfima vibração que se desprende,
na vitória precária sobre as trevas do mundo.
Que farei com essa luz que me ilumina
e, por instantes, me revela o oculto,
a respiração da terra no murmúrio do oceano?

Pertenço a um povo marítimo, dizem-me,
e não há poema que não traga lágrimas salgadas
ou um barco ancorado no velho cais.
Assim são também os meus, mesmo se falam
da terra seca ou da floresta erguida na montanha.
São marinheiros que habitam nestas palavras
e navios perdidos que lançam breves sinais.

Rudes as nossas planícies e pobres os rios.
Ninguém sabe o calor do vento na campina
nem o restolhar das águas fluviais.
Resta a areia imensa presa na rocha dura,
resta o barulho das ondas a rebentar
e um amor cego e perdido pela ventura
de morrer num naufrágio e não voltar mais.

2 comentários:

  1. Mais um daqueles poemas que me emociona. Já o tinha lido há pouco e tive que fechar a página. Às vezes quando gosto demais tenho que me impedir de continuar a ler, com medo que se perca a magia.

    Voltei agora a ver se ainda cá estava o poema ou se tinha fugido, ou se ainda cá estava mas agora já sem magia. Mas felizmente ainda cá está e a magia também.

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