Salvador Dali - Lilas del tiempo
358. O TEMPO NÃO É UMA HASTE OU UM BARCO
O tempo não
é uma haste ou um barco,
não é a mão
estendida sobre a vida
ou o sopro
do vento contra a parede da tarde.
Feroz
labirinto de sentido único,
ondulação
que vai mas não volta,
espuma tão
frágil que logo se dissolve.
Não sabemos
de onde veio nem o destino,
apenas as
rugas que sulcam a pele,
os dentes
cariados com que o mundo devora
a vida,
precária flor sobre a terra abandonada.
Lançamos-lhe
armadilhas, metáforas, metonímias,
e ele corre
serenamente sobre a paisagem,
traça sulcos
e chama-lhe rios da memória,
por vezes
toma um ar sério e glorioso,
outras não
passa do velho andrajoso
que desenha
ruínas a que chama história.
Ou gesta ou caminho
ou outra coisa sem sentido,
pois o tempo
é inimigo da semântica,
cavaleiro
que não repousa sobre a terra,
sempre a
meio caminho entre o nada que fabricou
e o outro
nada que de longe o chama.
O tempo não
é uma casa branca de orvalho
nem o rosto
da lua na vastidão negra do céu,
mas o desejo
que me prende ao que não aconteceu.
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