Jean-Michel Basquiat - Earth (1984)
356. CELEBRAMOS O AÇO QUE PERFURA O ROSTO DA TERRA
Celebramos o
aço que perfura o rosto da terra
e, incapazes
de escutar os anjos,
não ouvimos
os gritos que dela chegam,
inundam as
florestas que perderam a bênção,
o gesto com
que ungias o coração do mundo
e
asseguravas a todas as coisas a ordem.
Somos os
irados peregrinos que olham
para o
incêndio que te lavra nas entranhas,
e descobrem
na lava os escombros
com que
escondes a abissal cicatriz que nós,
filhos pobres
e insaciáveis do velho Prometeu,
pelo aço não
mais deixaremos de tracejar.
A precária
caravela perdeu-se no mar de trevas,
e as ruas
são apenas uma ferida aberta
em teu corpo
esguio de mulher tardia,
aquela que
chegou dentro de um segredo,
o rumor nascido
para além da fronteira,
a noite
polar em que dormindo aguardavas.
Mater
silenciosa, o que fizeram do teu silêncio?
Ouve-se o
ruir das paredes na planície fria
e mil
anátemas são lançados sobre o portal,
onde o dia e
a noite em discórdia se separam,
rasgando
mais e mais a pele suave da tua face,
que o aço
incansável não para de perfurar.
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