quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Memória e presença

Paul Klee - Alfombra del recuerdo (1910)

As experiências místicas, esses momentos em que Deus se manifesta na intimidade de um ser humano, serão exercícios de memória. Aprendemos, sob a direcção do senso comum, que a memória está relacionada com o passado. Talvez haja aqui alguma precipitação. A memória é uma faculdade que tem por objectivo tornar presente ao espírito alguma coisa. E não se pode tonar presente nada que tenha já passado. Quando recordo o passeio que, há dias, dei à beira-mar, não trago de volta esse acontecimento irrepetível. O que torno presente são alguns traços que subsistem em mim, isto é, torno presente aquilo que está já presente, mas oculto de alguma forma. Quando leio autores espirituais ou místicos tenho sempre a sensação de que as suas experiências são fundadas na memória. Não de uma memória que resulta de algo que se passou no passado, mas de uma memória que manifesta uma pura presença oculta. Deo Abscondito. Seja qual for a tradição espiritual e sejam quais forem as técnicas utilizadas, é sempre uma presentificação do que está sempre presente que está em jogo. 

2 comentários:

  1. Há místicos que dizem que passado, presente e futuro são uma e a mesma coisa, que tudo acontece em simultâneo...a teoria de um universo plano, que se pode «dobrar» e, assim, viajar no tempo, tem que ver com isso...mas voltarei aqui, com tempo. Até breve!

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  2. Ficamos à espera do desenvolvimento da viagem...

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